Um dos banqueiros mais influentes do Brasil acha que o mercado está mais pessimista do que deveria.
Numa conversa com um grupo de investidores ontem em Nova York, André Esteves, o fundador e chairman do BTG Pactual, disse que discorda da tese prevalecente no mercado de que o Governo Lula está indo na direção do desastre econômico do Governo Dilma.
Esteves – que já teve conversas privadas com Lula pelo menos duas vezes este ano – ponderou que o Brasil está crescendo 3% sem um grande aumento do déficit de conta corrente, o que nunca aconteceu antes.
As afirmações de Esteves estão num resumo de sua conversa com gestores que viralizou ontem na Faria Lima e foram confirmadas pelo Brazil Journal junto a pessoas que estavam lá. Algumas aspas usadas neste texto não são exatas, mas refletem o espírito do que Esteves disse.
Para o banqueiro, a inflação subiu de 3,5% para 4,1% “e todo mundo acha que o mundo acabou, todo mundo acha que estamos Dilmando.” Esteves discorda.
Mais: “todo mundo acha que o BNDES voltou a piorar.” Esteves não acha que é por aí. “O BNDES está ok.”
Para o banqueiro, a retórica anti-mercado de Lula, particularmente no começo do mandato, gerou este sentimento negativo entre os investidores, uma visão que ele considera “exagerada.”
“O Brasil está melhor do que parece,” disse o banqueiro – repetindo uma frase que tem dito em quase todas as suas aparições públicas desde o início do Governo Lula – mas reconhecendo que o mercado está “cauteloso” e “ressabiado”.
Na margem, Esteves acha que a propensão de Lula a ouvir melhorou desde a posse. Para ele, o Presidente começou o Governo “ressentido” com a falta de apoio dos empresários durante a Lava Jato. Agora, estaria mais aberto a ouvir. Prova disso é que convidou a Febraban para uma reunião na semana que vem – a primeira deste terceiro mandato.
Esteves acha que consertar o quadro fiscal também é mais fácil do que o mercado acredita.
“Esse negócio de que o fiscal é travado não é verdade,” disse o banqueiro. “Dá pra arrumar fácil. Apertar o fiscal é moleza. Se perguntasse no começo do ano, todo mundo achava que o déficit este ano seria maior.”
Para ele, os preços dos ativos brasileiros estão distorcidos, e “o gringo está com dedo no gatilho.”
No BTG, segundo Esteves, 19 dos 20 maiores acionistas são investidores internacionais. “E na margem o comprador da ação é gringo. Eles estão animados.”
Além disso, o investidor internacional ainda “está protegido com este câmbio de R$ 5,60” se quiser montar uma posição em Brasil.
Esteves também falou sobre o resultado “relevante” da eleição de domingo, da qual saíram derrotadas “a esquerda e a direita maluca.”
Na visão de Esteves, para a esquerda ficou clara a mensagem de que o centro está mais popular – ou seja, caminhar para o centro político “parece um bom negócio.”
Para o banqueiro, o maior legado político de Lula seria “reinventar o PT” como um partido de centro-esquerda, escorado em novas lideranças como o prefeito reeleito de Recife, João Campos (que é do PSB), ou o Governador do Piauí, Rafael Fonteles. “Tem que tentar fazer isso para salvar o partido.”
Esteves acha que um Congresso e um STF com mais voz – como está acontecendo – são ótimos pro Brasil, pois asseguram que um Executivo “com a cabeça errada” não tenha margem de manobra.
Para ele, “institucionalmente, o Brasil evoluiu.”
Analisando a eleição de 2026, Esteves acha que “se a esquerda não se reinventar, não será favorita.”
Para ele, se Jair Bolsonaro vier candidato “seria muito confuso institucionalmente e aumentaria a chance de vitória de uma esquerda não modernizada.”
“Tarcísio sabe que a chance dele é agora,” e teria apoio maciço na campanha, disse o banqueiro, para quem “não tem chance de Tarcísio não ser candidato. Ele é uma unanimidade do PIB.”
Para Esteves, se Tarcísio ganhar os ativos brasileiros viverão “a mãe de todos os ralis.” O mesmo raciocínio vale para Haddad, se o candidato prometer equilíbrio fiscal.
Ainda assim, ele acha que a probabilidade de Lula se candidatar à reeleição “não é óbvia.”
“Aos 81 anos, recomeçar um ciclo não é óbvio. Vai ter gente em volta implorando pra ele ir. Mas não é óbvio. A alternativa mais óbvia a Lula seria Haddad,” que tem a confiança do Presidente.
No caso de um embate Haddad X Tarcísio, Esteves já sabe o que fazer: vai tirar três semanas e ir pra Itália.
“Vai ser uma porrada insana nos mercados.”