A possível solução para o Alzheimer já tem um nome: UB-311.

A United Neuroscience, uma startup irlandesa fundada há apenas quatro anos, acredita estar perto da resposta para uma pergunta que tem feito gigantes de biotecnologia coçarem a cabeça por décadas: como combater a doença, que atinge mais de 50 milhões de pessoas no mundo?

Num teste clínico de Fase II — ainda pequeno, com 42 pessoas em estágios iniciais da doença — a United chegou a resultados promissores.

Dos pacientes que testaram a UB-311 — como foi batizada a vacina desenvolvida pela startup — 96% apresentaram resultados positivos. Houve melhora nas funções cerebrais e redução expressiva no acúmulo de proteínas que prejudicam o cérebro.  

Outra vitória: nenhum dos usuários teve efeitos colaterais, um dos pontos que vinha inviabilizando os estudos anteriores.

“Tivemos resultados melhores que o dos placebos em todos esses pontos”, Mei Mei Hu, a CEO da startup, disse à Bloomberg Businessweek. “Ainda não podemos fazer nenhuma reivindicação, mas os estudos apontam em todas as direções corretas.”

As causas do Alzheimer ainda não são 100% claras, mas boa parte dos estudos apontam para três suspeitos: o beta-amiloide, uma proteína que quando agrupada causa estragos no cérebro; o tau, outra proteína com os mesmos efeitos; e as inflamações.

A vacina criada pela United combate o primeiro suspeito, considerado por especialistas o principal culpado da história.

Na prática, a UB-311 estimula o sistema imunológico do paciente a atacar o beta-amiloide, retardando o acúmulo de proteínas, revertendo danos e restaurando a função cerebral.

Nos últimos anos, o Alzheimer tem sido um dos focos das gigantes de biotecnologia, e algumas vacinas — nem todas focados no amiloide — já trouxeram resultados promissores. O problema: os efeitos colaterais em alguns pacientes têm sido devastadores.

Nos anos 2000, a Johnson & Johnson chegou a realizar pesquisas clínicas com uma vacina similar à da United, mas os estudos foram abandonados depois que o tratamento causou uma inflamação cerebral séria em 6% dos usuários.

Desde então, os esforços têm se concentrado em vacinas que estimulem os anticorpos sem desencadear a resposta que causou a inflamação.

É aí que entra a United.

Neste primeiro estudo da UB-311, a startup conseguiu resultados semelhantes às tentativas anteriores, mas sem os efeitos colaterais.

Agora, a empresa está buscando investidores que topem bancar um estudo mais amplo e conclusivo. (Até o momento, a United diz que já despejou mais de US$ 100 milhões em pesquisa e desenvolvimento).

Focada principalmente em tratamentos neurológicos, a startup está se preparando também para começar o teste de uma vacina para prevenir o Mal de Parkinson e quer criar uma segunda vacina para o Alzheimer, dessa vez focada no combate da tau.

A United foi fundada por Lou Reese e sua esposa Mei Mei Hu, uma advogada formada em Harvard e com passagem pela McKinsey, onde assessorou empresas farmacêuticas.

A inspiração para investir em biotecnologia partiu da mãe de Hu, Chang Wang, que passou décadas desenvolvendo tratamentos e vacinas.

O grande sucesso da pesquisadora, no entanto, se deu com animais: Wang desenvolveu uma vacina bem sucedida contra febre aftosa e uma solução de castramento químico para porcos, que os mantém mais saudáveis por mais tempo, e que é utilizada em todo mundo.

Hoje, Wang atua como chefe científica na United, onde tenta transportar alguns conhecimentos importante no seu tempo desenvolvendo medicamentos para animais também em soluções para humanos.

O potencial da descoberta da vacina para o Alzheimer — se de fato for comprovada — é gigantesco.

Com o envelhecimento da população, a Alzheimer Disease International estima que o número de afetados no mundo deve subir 50%, para 75 milhões em 2030.