A Eneva acaba de comprar a Focus Energia por cerca de R$ 920 milhões, tirando a empresa de energia solar da Bolsa menos de um ano depois de seu IPO, fontes a par do assunto disseram ao Brazil Journal.
A transação deve ser anunciada nos próximos dias.
A aquisição – que não inclui prêmio sobre o valor de mercado da Focus – vai ao encontro da estratégia da Eneva de diversificar seu portfólio com fontes renováveis de geração, especialmente as de energia solar.
Há um ano, a Eneva tentou — sem sucesso — comprar a AES Brasil, justamente para colocar essa estratégia em marcha.
O valor que a Eneva está pagando pela Focus parece ser uma barganha: no IPO, a Focus levantou R$ 700 milhões a um valuation de R$ 1,6 bilhão — mais de 60% acima do valor da transação de hoje.
Mas de lá para cá, o cenário mudou. Diversas empresas de energia solar — incluindo a Focus — sofreram com o atraso de fornecedores chineses na entrega de placas, estourando seus orçamentos e deixando-as vulneráveis.
Além disso, a Bolsa despencou e os juros subiram, estreitando as avenidas de capitalização da Focus no mercado de capitais e aumentando drasticamente seu custo para levantar dívidas.
No IPO, a promessa da Focus era usar os recursos para colocar de pé o projeto de um parque solar no Norte da Bahia, o Futura 1. Para financiar a construção, ela precisaria de outros R$ 2 bilhões (além dos recursos levantados na oferta), que seriam levantados posteriormente com dívida.
“Nesse mercado, é importante ter bons projetos, o que a Focus tem; ter bons contratos de venda de energia, que eles também têm com a comercializadora; e ter um bom de custo de capital, que eles não têm, mas que vão conseguir agora com a Eneva,” disse uma das fontes.
A transação será paga 75% em dinheiro e o restante em ações. Os principais acionistas da Focus são o grupo de fundadores, que ainda detém 52% do capital, e as gestoras Atmos (10%) e Bogari (5%).
A transação ainda precisa passar pela assembleia de acionistas, mas na prática já nasce aprovada, uma vez que precisa de 50% mais 1 dos votos.
Fundada em 2015, a Focus começou como uma comercializadora de energia, comprando energia de geradoras e revendendo para mais de 1.400 clientes, do varejo à indústria.
Mas o grande ativo da empresa são seus três projetos de parques de energia solar: o Futura 1, 2 e 3, todos na cidade de Juazeiro, no Norte da Bahia.
O Futura 1 deve ficar pronto em meados do ano que vem e será o maior parque solar do Brasil, com uma capacidade de geração de 870 MW e 22 usinas. A estimativa é que, quando estiver 100% operacional, esse parque gere um EBITDA de R$ 350 milhões por ano.
Considerando o EBITDA que a Focus já faz hoje com sua comercializadora, isso implicaria um múltiplo de apenas 2,3x EV/EBITDA para a transação.
Os outros dois parques ainda não têm data para o início das obras, que devem ocorrer ao longo dos próximos anos. Mas o potencial é gigantesco: os dois parques juntos podem ter um tamanho 3x maior que o Futura 1, e devem demandar investimentos de quase R$ 10 bi.
A compra da Focus também traz uma sinergia com a comercializadora. A Eneva terá acesso a toda a base de clientes da Focus, podendo, eventualmente, vender gás para essas empresas.
A negociação entre as duas companhias começou antes do IPO da Focus. Na época, a Focus estava fazendo um dual track — negociando o IPO e, ao mesmo tempo, conversando com players estratégicos para uma eventual venda. Recentemente, a Eneva voltou a olhar para o ativo e as conversas retomaram.
A Eneva hoje tem uma capacidade de geração de 2,8 GW com suas térmicas e vale pouco mais de R$ 20 bilhões na Bolsa.
Santander assessorou a Eneva, que trabalhou com advogados do Stocche Forbes.
Morgan Stanley assessorou a Focus Energia, que trabalhou com o Pinheiro Neto.