Sempre que a popularidade de um governo cai, reaparece o discurso de colocar a culpa dos preços dos combustíveis em todos os agentes que compõem a cadeia – e isentar a Petrobras.

Com a queda da popularidade do Governo Lula anunciada pelo Datafolha, não seria diferente.

Dada a sensibilidade política e social do assunto, é comum que surja uma mentirinha aqui, uma enganação ali para se criar um bode expiatório.  O que ninguém frisa, nunca, é que os preços são livres. É a lei.

Hoje o Presidente Lula colocou a “culpa” pela “gasolina cara” na figura do distribuidor, acusando-o de ser “um atravessador” que só serve para aumentar o preço final – e defendendo a venda direta de combustíveis para o consumidor final.

Luiz Inácio Lula da Silva

É triste que o Presidente – um homem a quem geralmente se imputa uma genialidade política singular e que se vangloria de entender profundamente os problemas brasileiros – embarque numa mistificação deste tamanho. É tanta ignorância que até parece má fé. Até parece desinformação. E é. 

Aos olhos de um leigo, o discurso anti-distribuidoras – que este Governo já usou contra os mais diversos agentes privados desde seu início – pode até fazer sentido; afinal, como um combustível vendido a “x” na refinaria pode chegar aos postos de gasolina por “2x”?

Quando se estuda minimamente o assunto, entretanto, fica claro que a conta não é tão simples, e envolve fatores que vão além da dimensão algébrica.  

Vamos tomar a Gasolina C como exemplo. Além do custo na refinaria, o seu preço final ao consumidor reflete também: as despesas com transporte da gasolina “A” e do etanol anidro até a base de distribuição; a margem bruta da distribuidora; o frete até o posto revendedor; a margem bruta da revenda; e os impostos de nível estadual e federal (ICMS, PIS/Cofins e CIDE) que juntos respondem por 34% do preço final – mas como é imposto, isso o Lula não mostra. 

Segundo a própria Petrobras, na segunda semana de fevereiro a margem bruta (ou seja, antes dos impostos) da distribuição e da revenda (somados) representava só 18% do preço médio da gasolina C vendida no território nacional.

Ou seja, 18% brutos para remunerar o trabalho do dono do posto e da distribuidora, que faz toda a logística e garante a segurança e a qualidade do que entra no tanque.

Os tributos federais (11%) e os estaduais (23%) representaram juntos 34% do preço da bomba – ou seja, a máquina do Estado é o verdadeiro intermediário, aquele que trabalha pouco e ganha muito.

O cenário não é muito diferente para o diesel. A atividade de distribuição e revenda responde por uma fatia similar do preço final, 18%, enquanto a carga tributária fica na faixa dos 22%, sendo 5% federais e 17% estaduais.

Já a na distribuição e revenda do GLP – o gás de cozinha – tem uma margem bruta bem maior, explicada pela maior complexidade do processo de engarrafamento do gás.

O botijão demanda uma etapa extra no segmento de distribuição, uma que conta com métricas de segurança e manejo mais rigoroso quando comparado aos combustíveis líquidos, e logo mais custoso. (Além disso, o GLP não paga impostos federais.)

O discurso do presidente Lula não tem pé na realidade. 

São as empresas que garantem o abastecimento (com segurança) ao consumidor final em todo o País. E são elas que têm que competir com os sonegadores e fraudadores que o Estado não consegue coibir. 

Em vez de focar neste problema (real), Lula obriga a Petrobras a retomar um programa de financiamento à indústria naval, e propõe que ela assuma a distribuição direta – duas ideias que certamente custarão (ou custariam) bilhões aos brasileiros, como atesta o Governo Dilma.

A etapa na cadeia de combustíveis onde não se cria valor nenhum é a carga tributária – mas Lula e os governadores dependem dela para manter uma máquina cujo tamanho poucos ousam reduzir.

A realidade do mercado de combustíveis não é tão simples quanto uma conta de padaria. Declarações levianas e ideias de jerico (como colocar a Petrobras de volta na distribuição) só farão o preço subir estruturalmente ao longo do tempo.

Por fim, o febeapá presidencial mostra um Lula cada vez mais desconectado – ou conectado com os anos 70. Um Presidente que fala sem pensar e está sempre fazendo comício. Um Donald Trump.

Essa pseudo-polêmica sobre o preço do combustível é um debate atrasado, requentado por um governo sem ideias.