Num momento em que casas como Absolute e Verde ficam mais otimistas, a Kinea está mantendo o sinal de alerta.

Em sua última carta aos clientes, a gestora do Itaú comparou a economia global a Forrest Gump – o personagem do cinema que percorre boa parte dos Estados Unidos correndo e atrai uma legião de seguidores, até que se cansa e volta para casa. 

“Do mesmo modo que a economia global tem surpreendido com sua vitalidade, há razões para imaginarmos que, após ela ter corrido muito mais que o esperado, o segundo semestre possa trazer alguma fadiga inesperada”, dizem os gestores.

Em janeiro, a maioria dos analistas previa um começo de ano mais difícil para o Brasil e o mundo. 

O cenário não se concretizou, diz a Kinea, porque, em termos globais, o impacto da poupança acumulada durante os anos de pandemia sobre o consumo e o emprego foi maior que o esperado.

“No Brasil, subestimamos a força do agro e do impulso fiscal promovido tanto pelo governo anterior quanto pelo atual,” escrevem os gestores.

Para o segundo semestre, a Kinea vê sinais de cansaço, aqui e no exterior. “A forte injeção de poupança e liquidez durante a covid parece ter postergado, mas não deve evitar, uma desaceleração da economia global.” 

Nos Estados Unidos, como consequência do aperto monetário, o mercado de trabalho está perdendo força. Apesar de o total de pessoas empregadas continuar subindo, o número de horas trabalhadas caiu. 

“Empregadores parecem estar relutantes em iniciar reduções em seus quadros de funcionários, que podem se mostrar inevitáveis conforme a economia desacelere.”

No Brasil, “certamente o PIB não deve manter o mesmo momento observado no primeiro semestre”, diz a Kinea. 

“Talvez mais importante, com essa desaceleração e maior proximidade de mudança na liderança do Banco Central, fantasmas fiscais e inflacionários podem voltar a assombrar nossa economia.”

Diante disso, a casa está vendida em bolsas globais, principalmente nos Estados Unidos e Europa, e tem uma pequena posição tática no mercado de ações brasileiro.

Para os gestores, a recente alta da bolsa local se deve à redução de juros futuros e prêmio de risco, “que pode não se sustentar no decorrer do ano”. 

“Não vemos um cenário de reaceleração econômica que justificaria uma sequência de upgrades nos lucros do setor privado.”

A Kinea também está comprada em ouro, em euro contra dólar e em moedas de países cujos BCs estão atrasados no ciclo de aperto monetário, caso da libra esterlina.