Duas semanas depois de levantar R$ 485 milhões vendendo ações preferenciais do Banrisul, o governo gaúcho embolsou quase R$ 55 milhões hoje com a venda de ações votantes no banco. 

Num block trade liderado pelo BTG – o mesmo banco que liderou a venda das PNs e vai coordenar o IPO da credenciadora de cartões do banco – o Estado vendeu 3,1 milhões de ações, equivalentes a pouco mais de 1% do capital votante.

Antes da operação de hoje, o Estado detinha 99,5% das ONs, e a Fundação Banrisul de Seguridade e o Instituto de Previdência do Rio Grande do Sul detinham o restante. Cada ação saiu a R$ 17,65, um desconto de mais de 30% em relação à cotação de tela do dia anterior e equivalente a pouco mais de uma vez o valor patrimonial do banco. 

Um cliente do Brasil Plural foi o principal comprador do papel, que não tem liquidez. De acordo com uma fonte próxima ao Banrisul, o volume de hoje só não foi maior porque não havia mais demanda. Segundo duas fontes, o Estado estaria disposto a vender mais se esta demanda se materializar.

Naufragando numa crise fiscal, o Governador José Ivo Sartori se recusa a privatizar o banco sob o pretexto de ‘preservar o patrimônio Estado’ – e, diante da falta de racionalidade econômica, está sendo obrigado a catar trocados. No ano passado, o Governo cogitou vender apenas as ações que excedem o controle do banco, mas aquele plano foi adiado. 

Enquanto o Governo se recusa a fazer o óbvio, os servidores estão sem receber em dia há 29 meses.

Em março, só receberam em dia os servidores que ganham até R$ 1,2 mil. Depois da venda das PNs no início deste mês, o Governo pretende honrar os salários de quem ganha até R$ 4 mil. 

A pindaíba é tão grande que a quitação de março só foi possível porque, numa manobra contábil, o Ministério Público Estadual concordou em ‘emprestar’ ao Estado R$ 60 milhões. 

Como mostramos aqui no mês passado, quatro investidores se uniram para emplacar um conselheiro independente no Banrisul. Na assembleia de acionistas realizada hoje em Porto Alegre, as gestoras Zenith, Kapitalo, Oceana e JGP – donas de 16,45% das PNs e 8,45% do capital total – conseguiram eleger também dois conselheiros fiscais.