Quatro gestoras se uniram para emplacar um conselheiro independente no Banrisul, num momento em que o Governo gaúcho tenta monetizar parte de sua fatia no banco em meio a um colapso fiscal.

A gestora gaúcha Zenith Asset Management, a Kapitalo Investimentos, a JGP e a Oceana indicaram Adriano Seabra para o conselho do banco.  Seabra, um veterano gestor de recursos que recentemente trabalhou na Opus e na Fides, já participa dos conselhos da Sanepar e da CESP, além do conselho fiscal da Copasa.

Juntas, as quatro gestoras têm 34,5 milhões de ações PNB do Banrisul (BRSR6), equivalentes a 16,95% do total de PNs e a 8,45% do capital total do banco.

O estatuto do Banrisul garante a investidores na ação PN que detenham no mínimo 10% do capital total o direito de eleger um conselheiro.

“A governança no Banrisul é um desastre, é a pior que já vimos numa empresa aberta,” diz Rafael Morsch, sócio da Zenith, que está liderando o ativismo. A Zenith administra R$ 280 milhões e é dona de 2% das PNBs do Banrisul, que é a maior posição do seu fundo. “Desde que começamos este movimento, o banco se negou a conversar com a gente. Só falou com as outras gestoras e mesmo assim tentando dissuadi-las de participar.”

Na AGO de abril do ano passado, os acionistas elegeram nove membros do conselho, dos quais quatro acabaram rejeitados pelo BC em dezembro.  

O BC rejeitou três nomes indicados pelo Estado — três secretários de Estado — apontando que eles violariam a Lei das Estatais, que veda secretários do Estado em conselhos de estatais. Mateus Bandeira, indicado pelos preferencialistas e hoje pré-candidato ao Governo do Estado, também foi rejeitado por já ser conselheiro do Banco Pan; o estatuto do Banrisul não permite que um mesmo conselheiro atue em dois bancos. (Só o BC viu a violação.)

Os acionistas minoritários querem instalar um conselheiro para tentar coibir operações que consideram lesivas ao banco.

Até o pescoço em déficit, o Estado gaúcho parcelou o décimo-terceiro de 2016 em 12 parcelas ao longo de 2017.

Em dezembro último, para pagar o décimo terceiro de 2017 em dia, o Governo fez uma operação com o Banrisul.  Os funcionários públicos tinham duas opções.

Ou o funcionário aceitava receber o valor cheio do décimo-terceiro como um empréstimo, ou recebia em 12 parcelas corrigidas pela mesma taxa pela qual o Estado remuneraria o banco (LFT + 1% ao mês). A taxa do empréstimo era abaixo da taxa de consignados do banco, uma operação parecida mas de menor risco.

A Zenith foi à CVM e reclamou que a operação era uma triangulação, claramente proibida pela Lei de Responsabilidade Fiscal, que impede que entes da Federação sejam financiados por bancos sob seu controle. A CVM abriu um processo em janeiro.

Os acionistas também querem monitorar a implementação de um plano de restruturação, desenvolvido pela McKinsey, que identificou diversas iniciativas de aumento de receita e corte de custos no banco.

“É tudo mato alto, coisas simples que dá pra fazer,” diz outro gestor envolvido no ativismo. Por exemplo, a McKinsey identificou que clientes do Banrisul têm um limite de cartão de crédito substancialmente inferior ao que recebem de outros bancos.  “O gaúcho é bairrista: se o limite for igual no Itaú e no Banrisul, ele vai preferir operar no Banrisul,” diz este gestor.

No ano passado, o Banrisul teve um retorno patrimonial recorrente de 13,5%.  O Bradesco deu 18% e o Itaú deu 20%.

Apesar da crise fiscal épica, o Rio Grande do Sul se recusa a sequer contemplar a privatização do Banrisul.

No Governo Olivio Dutra (PT), o Estado fez uma emenda constitucional que obriga a convocação de um plesbiscito para vender qualquer uma de suas estatais.  De lá para cá, todos os governos gaúchos usaram essa emenda como desculpa para não vender o banco, dizendo que os gaúchos jamais aprovariam a medida. Em vez disso, o Estado tem sondado a possibilidade de vender as ações que excedem o controle do banco, deixando bilhões de reais na mesa.

O valor patrimonial do Banrisul é R$ 7 bilhões.  Tendo como métrica privatizações de outros bancos estaduais, não seria inconcebível que o Banrisul saísse por até três vezes o valor patrimonial numa venda de controle.  Já a venda das ações excedentes sairia a valor de mercado, de cerca de 1,1x o valor patrimonial.  

Além do Banrisul, o Rio Grande do Sul é controlador do BADESUL, um banco de desenvolvimento que dá prejuizo há anos, e sócio do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), um banco de desenvolvimento que pertence aos três Estados da Região Sul.

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