Dan Loeb, o gestor ativista da Third Point, acaba de oficializar que vai brigar pela venda da Campbell Soup, uma companhia cuja trajetória ilustra a ascensão e queda da indústria de Big Food nos Estados Unidos.

Desde meados de junho, quando ficou claro que a Third Point estava comprando ações da Campbell, o mercado especulava sobre a agenda da gestora.  

A novidade é que ele não está só. Num filing arquivado na tarde de hoje na SEC, a Third Point diz que tem 5,65% da Campbell e que conseguiu o apoio de George Strawbridge — um dos membros da família fundadora, dona de 42% das ações e ainda dividida quanto ao futuro da companhia. Juntos, Third Point e Strawbrige tem 8,46% do capital.

No documento, Loeb se diz convicto de que a venda para um investidor estratégico é a única saída para extrair valor da Campbell, cujo valor de mercado hoje é o mesmo de 1996.  As ações da empresa, que vinham subindo nos últimos meses diante das especulações de venda, fecharam o pregão em alta de 0,7%.

No comunicado enviado à SEC, a Third Point faz um diagnóstico arrasador da companhia. “Anos de descuido abismal por parte do conselho permitiram erros de gestão, desempenho operacional pífio e numa série de aquisições mal assessoradas que cobraram um preço irreversível na Campbell”, disse a gestora.

O vácuo de poder deixado após a saída de Denise Morrison, uma das primeiras vozes da indústria a defender a transição para comidas mais saudáveis, também é criticado.

“Um dos deveres mais essenciais de qualquer conselho é evitar esse tipo de situação; a situação de vácuo de poder atual nos lembra uma frase de Ben Franklin: ‘se você falha em planejar, você está planejando falhar”, vaticina o gestor.

Apesar da marca icônica, a venda da Campbell Soup está longe de ser canja de galinha.

O negócio de sopas, seu carro-chefe, encolheu 1,9% no ano passado. Ao mesmo tempo, em vez de se tornarem solução, as diversas aquisições feitas no segmento de comida fresca se revelaram um problema. Os desafios de operar uma cadeia mais complexa de suprimentos e logística pesaram sobre a rentabilidade. Resultado: as vendas dessa divisão estão praticamente estagnadas, e ela dá prejuízo operacional.

A dívida também é difícil de engolir. A compra da Snyder’s Pretzels, de chips e pretzels, no fim do ano passado por US$ 6,1 bilhões – a maior na história de 150 anos da companhia – foi financiada com dívida. Resultado: o endividamento como proporção do EBITDA está na casa das 5 vezes.

A Kraft Heinz é apontada como uma compradora lógica para o negócio, até por um precedente: no fim de 2014, a Kraft estava em dificuldades e o CEO renunciou de forma inesperada; meses depois, foi anunciada a fusão com a Heinz, então controlada pela 3G.

O ‘The New York Post’ reportou na semana passada que a Kraft está em conversas preliminares com a Campbell, mas não estaria disposta a pagar um prêmio pela empresa. Hoje, fontes disseram à Reuters que a Kraft de fato chegou a considerar a aquisição, mas os planos esfriaram.

O negócio não é trivial. Ainda que haja sinergias e oportunidades de cortes de custos, a Kraft parece querer se afastar do corredor de enlatados, que ainda são a maior parte do negócio da Campbell.

O futuro da Campbell deve ficar mais claro no dia 30, quando a empresa divulgará ao mercado o resultado de um plano de revisão estratégica que vem sendo conduzido desde a renúncia da CEO.