A CSN Cimentos acaba de comprar as operações da LafargeHolcim no Brasil por US$ 1,025 bilhão — o piso da faixa de preço esperada pelo mercado, que ia até US$ 1,5 bi — numa transação que dobra o volume de produção e o EBITDA da companhia e a transforma no segundo maior player do setor, atrás apenas da Votorantim.
A transação — dois meses depois da compra da Elizabeth Cimentos por R$ 1 bi — acelera em 7 anos os planos de crescimento da CSN Cimentos, que havia prometido aos investidores de seu potencial IPO que atingiria uma capacidade de produção de 17,3 milhões de toneladas em 2028.
Com a aquisição de hoje, a capacidade da CSN Cimentos já chega a 16,3 milhões de toneladas.
A CSN está pagando um múltiplo de US$ 99,50 por tonelada, consideravelmente menor do que pagou na compra da Elizabeth (US$ 140/ton). Mas a comparação não é perfeita: a Elizabeth tem plantas mais modernas e uma rentabilidade significativamente maior. Cimenteiras listadas, como a Cemex, negociam entre US$ 180 e US$ 250 por tonelada.
A Lafarge é dona de 5 fábricas integradas e 5 moagens, a maior parte no Sudeste.
A aquisição embute sinergias significativas.
A CSN espera otimizar a estratégia comercial da Lafarge, mudando o mix (aumentando a venda de cimento ensacado, que tem margem maior), reduzindo a capacidade ociosa das fábricas e aumentando a venda direta ao cliente final, sem passar por distribuidores.
“A Lafarge está operando num volume mínimo de 60% da capacidade, e achamos que conseguimos chegar perto de 90% ao longo do tempo,” o CFO da CSN, Marcelo Ribeiro, disse ao Brazil Journal.
Com todas essas medidas, a CSN espera dobrar a margem EBITDA da Lafarge nos próximos anos, aproximando-a do nível de margem em que a CSN opera (em torno de 45%), disse o CFO.
A aquisição — que será paga 50% com equity e 50% com dívida — não deve alterar os níveis de endividamento da CSN, onde Benjamin Steinbruch tornou a desalavancagem em uma obsessão.
A relação dívida líquida/EBITDA da CSN — que terminou o segundo trimestre em 0,6x — deve terminar o ano ainda menor, mesmo com a compra de hoje, disse o CFO.
A transação de hoje começou no fim do ano passado quando a CSN provocou a Lafarge, que decidiu estruturar um processo competitivo que envolveu diversos players. No final, a disputa ficou entre a CSN e a Mizu Cimentos, do Grupo Polimix, hoje a quinta cimenteira do Brasil.
Com a nova aquisição, a CSN Cimentos deve fechar o ano com uma produção de 12 milhões de toneladas, o que a coloca como segundo maior player do setor com um market share de cerca de 18,5%. Para efeito de comparação, a Votorantim tem um share de 37% e a Intercement (da Camargo Corrêa), de 16%.
Na reta final, a transação enfrentou volatilidade nos mercados, o aumento do risco político e investidores deprimidos. Benjamin reconheceu que o momento é “bastante incerto.”
“Mas nós, que somos brasileiros e estamos há tanto tempo no mercado, sabemos que tem muita instabilidade, mas que no médio e longo prazo o Brasil converge para o centro.”
Deus te ouça, Benjamin.
BNP Paribas assessorou a CSN. Pinheiro Guimarães, BMA e White & Case deram assessoria legal.
Itaú BBA assessorou a Lafarge, que teve assessoria legal do Mattos Filho e Freshfields Bruckhaus Deringer.