Como a política pública deve reagir à interrupção da vida econômica?  

Para evitar a judicialização de contratos, aluguéis e dívidas, deve-se legislar sobre o assunto?  Ou a intervenção regulatória faz mais mal do que bem?

“Não ter interferência seria o ideal, mas, conhecendo o Brasil, você sabe que vai ter interferência, então é melhor ter uma regra ampla por um curto período de tempo — por exemplo, um adiamento de obrigações temporário, estabelecido em lei — do que deixar que cada comarca e cada juiz dê um remédio de sua própria cabeça,” diz um participante do mercado de crédito.

Para ele, “entre as grandes empresas e os grandes bancos, ninguém está executando ninguém — fora o Safra, que sempre executa todo mundo. Mas o problema não é aqui em cima.  O problema é na pequena empresa, onde os credores não têm interlocução nem visibilidade sobre o que está acontecendo.” 

“Os grandes bancos têm gerentes de relacionamento que acompanham e conhecem profundamente a realidade de cada grande cliente — mas obviamente, isso não existe para as milhões de pequenas empresas, até porque não faria sentido econômico.” 

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A Anheuser-Busch InBev (ABI) cortou seu dividendo relativo a 2019 de € 1 para € 0,50 por ação.

Olhando o filme todo e não só a foto, o novo dividendo é metade da metade.

10089 ffa15928 519b 0039 1e5a f9640c8b3feaAté a compra da SABMiller em 2016, a ABI historicamente pagava € 3,60 por ação. Apesar de assumir US$ 100 bilhões em dívida, o plano do CEO Carlos Brito e o (ex) CFO Felipe Dutra sempre foi manter o dividendo e desalavancar a empresa com base no crescimento no EBITDA — que nunca veio.

Em novembro de 2018, rendendo-se às evidências, a companhia cortou o pagamento pela metade, e dividiu o novo valor (€ 1,80) em duas parcelas: € 0,80 são pagos em novembro do mesmo ano do exercício fiscal, enquanto a parcela de €1 é paga em maio.

É este euro que está sendo cortado ao meio.

“Quem reduziu o dividendo não foi a companhia, foi o mercado,” nota um investidor histórico.

O papel caiu 2,7% em Nova York.

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Aumentou a probabilidade de que o takeover hostil da AES Tietê pela Eneva aconteça.

Acionistas da Eneva estariam comprando ações da Tietê no mercado para votar a favor da proposta. No pregão de hoje, a unit da Tietê subiu 9% e a ação da Eneva, quase 6%.

O desconto implícito no preço da Tietê em relação ao preço ofertado, que já foi de 10%, agora caiu para quase zero.

Ontem, a Eneva anunciou que tomou uma dívida de R$ 400 milhões para mostrar que está comprometida e ‘fully funded’ para fazer o negócio. 

Como se sabe, a Eneva está explorando uma provisão no estatuto da Tietê que prevê que os preferencialistas passam a ter direito a voto quando a empresa tiver que apreciar uma proposta de fusão.

A AES Corp. tem 60% das ONs da Tietê, mas apenas 24,5% do capital total.  Como o BNDES e a Eletrobras (grandes acionistas da Tietê) e uma fatia relevante do free float devem votar a favor da Eneva, a operação parece ser inevitável, a menos que a AES Corp faça algo espetacular, como fechar o capital da companhia.

No BNDES, estima-se que pelo menos 40% do capital total da Tietê estejam no campo a favor da oferta.  O banco está disposto a convocar uma assembleia de acionistas se a Tietê ficar protelando.

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A Petrobras vai paralisar ao longo deste mês pelo menos 45 plataformas de produção de petróleo e gás natural. A empresa comunicou a medida numa carta aos sindicatos de petroleiros, e informou que o fechamento vai significar demissões e remanejamento de pessoal.

A medida é só a ponta do iceberg. A estatal tem como meta cortar a produção em 200 mil barris por dia, e as plataformas fechadas somam apenas 10 mil barris/dia, ou 5% da meta.

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E aquela corrida aos supermercados?   Dados da Nielsen mostram como os americanos se estocaram de comida antes da quarentena.

Entre 4 de março e 4 de abril, as vendas cresceram assim nas empresas de comida processada (ano contra ano):

Campbell Soup +68% 

General Mills +63% 

Kraft Heinz +50% 

Mondelez International +37% 

Kellogg +37% 

Nestlé +33% 

Danone +25% 

Hershey +11%

Todas as companhias viram as vendas arrefecer na última semana do tracking em comparação às três anteriores.

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Com muitas startups nas cordas, a resenha do que deu errado no mundo dos VCs já começou.

10979 b26a4ccb 4a4f f545 1cf5 f0fff908e853Um dos que estão fazendo a autópsia é Chamath Palihapitiya, um dos primeiros executivos do Facebook e hoje dono da Social Capital, uma gestora de venture capital no Vale.

“Hoje na economia real, as pessoas estão sendo destruídas. Os CEOs ricos não estão, os conselhos que têm uma governança horrível não estão, mas as pessoas, sim,” Chamath disse à CNBC. “O que fizemos foi apoiar desproporcionalmente CEOs e conselhos com baixa performance, e precisamos nos livrar dessas pessoas.”

E continuou seu ataque aos privilégios:

“Só para esclarecer de quem estamos falando… Estamos falando de um hedge fund que atende vários family offices de famílias bilionárias. Quem se importa? Eles não vão poder passar o verão nos Hamptons? Essas são as pessoas que se dizem os investidores mais sofisticados do mundo.” 

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A Marcopolo retomou parcialmente as atividades de suas fábricas localizadas em Caxias do Sul. A empresa prevê uma retomada gradual das operações, com 25% dos funcionários retornando ao trabalho no turno diurno e 25% no noturno. As fábricas da empresa no Rio e Espírito Santo continuam paralisadas.

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No Rio Grande do Sul, outras fábricas também retomaram a atividade nesta semana. Parte dos funcionários da Tramontina e da Randon voltaram ao trabalho depois de três semanas de férias coletiva.

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A Brasa, maior associação de alunos que estudam no exterior do Brasil, teve que cancelar dois de seus eventos nos últimos meses em decorrência da pandemia. Agora, a rede está organizando sua primeira conferência online com o tema “Recomeço da década de 20”.  

A “Brasa Global Summit” acontece no dia 25 e terá a participação de nomes como Luiza Trajano, chairman da Magazine Luiza, Nicola Calicchio, chairman da McKinsey, e Marcos Lisboa, presidente do Insper.