Tentando se defender da oferta de aquisição que está sendo preparada pela Kroton, a Estácio vai sentar para conversar com o Grupo Uniasselvi. O BTG Pactual, banqueiro da Estácio, já fez a primeira ligação.
Uma das maiores instituições de ensino à distância do País, a Uniasselvi era parte da Kroton até outubro do ano passado, quando foi vendida para o Carlyle e a Vinci Partners.
Se comprar a Uniasselvi numa troca de ações, a Estácio estará engolindo uma pílula de kriptonita que enfraqueceria muito as chances da ‘super Kroton’, já que a Kroton voltaria a enfrentar, no CADE, a mesma questão regulatória que forçou a venda da Uniasselvi em primeiro lugar.
Apenas para ilustrar: assumindo um preço de R$1,6 bilhão pela Uniasselvi e o valor de mercado atual da Estácio de R$4,8 bilhões, os acionistas da Uniasselvi ficariam com 25% da nova empresa.
No mercado de EAD, a Kroton ainda é a líder com 38%, seguida pela Estácio (com cerca de 9,3%) e pela própria Uniasselvi, que hoje tem 8% e, com a abertura de novos campi, deve logo chegar a 10%. (Outros dois players — Uninter e UNIP — também têm 9% do mercado, cada.)
Para a Estácio, a Uniasselvi oferece uma vantagem adicional: trata-se do único ativo de educação com escala relevante e uma governança relativamente fácil de costurar, já que é totalmente controlada por dois players financeiros — sem a bagagem ocasional de egos, paixões e idiossincrasias trazida por empresários-fundadores.
Neste cenário, a ideia de que a Estácio hoje se inclina pela proposta alternativa de fusão com a SER Educacional nada mais é que aquele jogo adolescente em que você dá em cima de uma garota para aumentar o interesse da outra. Nos termos da proposta da SER, o CEO do grupo, Janguiê Diniz, ficaria com 22% da nova empresa, enquanto Chaim Zaher, o maior acionista e conselheiro da Estácio, ficaria com 10%.
Pouca gente conhece a cabeça de Chaim, que construiu um império de educação básica e o vendeu para a Pearson quando o Brasil ainda estava no topo. Agora, não se sabe se ele quer ser um protagonista ou se está satisfeito em ser um acionista relevante — porém não controlador — de uma empresa listada. Se Chaim buscar um papel de destaque, muito provavelmente os fundos que controlam a Uniasselvi poderiam acomodá-lo.
Quando a Estácio sentar para conversar com a Uniasselvi, o CEO Rogério Melzi encontrará do outro lado da mesa um rosto familiar: Pedro Graça, o ex-diretor de ensino à distância da Estácio, é hoje o presidente da Uniasselvi, o que facilitaria a integração.
Para a Uniasselvi, a consolidação disparada pela Kroton criou o melhor dos dois mundos: se ela for comprada pela Estácio, provavelmente o ágio será grande. Mas se a Kroton pagar caro pela Estácio e prevalecer, a nova Kroton-Estácio terá que se desfazer dos ativos de educaçào à distância. Adivinha quem vai ser o comprador.
Já a dupla Carlyle-Vinci tem a chance de pedalar o que se mostrou um ótimo investimento num setor que implodiu com o fim da ‘bolha FIES’ e agora tenta se reinventar. Os fundos pagaram R$1,1 bilhão pela Uniasselvi, mas apenas R$400 milhões foram pagos à vista. Outros R$450 milhões foram parcelados em cinco anos (de 2018 a 2022), e mais R$255 milhões serão pagos como ‘earnout’, ou seja, se a Uniasselvi atingir metas operacionais pré-estabelecidas.
No mercado, muita gente acredita que a Kroton, comandada por Rodrigo Galindo e representada nas conversas pelo Itaú BBA, ainda não fez uma ‘oferta real’ pela Estácio. O que existe na mesa hoje é apenas uma relação de troca de ações que não oferece ágio nenhum aos acionistas da Estácio. O vazamento da intenção da oferta precipitou os eventos, e o preço ainda deve subir. Isso, se tudo não acabar numa oferta hostil.
Para quem gosta de Teoria dos Jogos, isso é melhor que Game of Thrones.