Quando Rodrigo Tognini apresentou a Conta Simples a seu primeiro investidor, o feedback foi um soco de realidade: “Vocês estão entrando num ringue de boxe. É um mercado que é só pancadaria, que tem muita gente grande e vocês ainda são magrinhos.”  

11267 20d8ceab f5ce ebcc cf1a 222f17679631Rodrigo fingiu que não ouviu e foi em frente com a ideia: uma conta digital para PJs que ajudasse pequenas e médias empresas a gerir melhor seus fluxos financeiros. 

Um ano depois, a Conta Simples tem mais de 13 mil clientes, já processou R$ 560 milhões em transações neste período e está crescendo receita a uma taxa média mensal de 55%.


Agora, a startup acaba de fechar uma rodada seed liderada pelo Quartz, o veículo de venture capital que tem entre seus principais investidores a família de José Galló, o chairman da Renner. 

A rodada de US$ 2,5 milhões (R$ 13 milhões ao câmbio de hoje) teve a participação dos fundos FJ Labs, de Fabrice Grinda, fundador da OLX; Big Bets, que já investiu na Croct e Chatpay; DOMO Invest; AbSeed; e do ex-sócios da XP Marcelo Maisonnave, Eduardo Glitz e Pedro Englert.

Rodrigo Dantas, o fundador da Vindi (e autor do alerta inicial), e Diego Gomes, da Rock Content, também são investidores.

A Conta Simples oferece uma conta corrente digital com ferramentas de gestão financeira. Mas seu principal diferencial está nos ‘múltiplos cartões corporativos’, uma solução que permite que o cliente da Conta Simples tenha vários cartões pré-pagos vinculados a centros de custo distintos. 

Por exemplo: uma startup pode ter um cartão para a área comercial, outro para a área de tecnologia e um terceiro para a área de marketing — fazendo a gestão dos gastos e definindo os limites de cada um separadamente. 

“O empreendedor tem que lidar com conciliação bancária, gerenciar fluxo de caixa, fazer múltiplos pagamentos com cartões… são inúmeras dores,” Rodrigo disse ao Brazil Journal

Hoje, 90% da receita da Conta Simples vem do ‘interchange’ dos cartões [a taxa que o lojista paga ao banco emissor do cartão], e o restante está dividido entre receitas de tarifas de TED (a partir da terceira do mês, a fintech cobra R$ 2,89 por transferência) e do rebate dos boletos. 

Rodrigo disse que a Conta Simples chegou ao breakeven em agosto, tem uma margem bruta de 65% e margem líquida entre 15% e 20%. 

“Achamos que a Conta Simples vai fazer pelas PMEs o mesmo que o  Nubank fez para as pessoas físicas,” diz Christiano Galló, sócio da Quartz. “Os grandes bancos são ineficientes e não conseguem atender bem este segmento.”

A capitalização vai ser usada para lançar novos produtos nas áreas de crédito e seguro (inicialmente por meio de parcerias), bem como aumentar os investimentos em marketing. 

“Nosso custo de aquisição de clientes (CAC) está muito baixo, então podemos investir bem mais e mesmo assim continuar tendo uma relação CAC/lifetime value muito boa,” diz Rodrigo. 

Segundo ele, boa parte dos novos clientes vem de programas de member-get-member ou indicações espontâneas, o que faz com que o CAC fique em apenas R$ 2 por cliente. Para efeito de comparação, o Banco Inter tem um CAC de R$ 22 para a conta PF e PJ.

A Conta Simples também pretende pedir uma licença ao BC para operar como Sociedade de Crédito Direto, passando a oferecer empréstimos diretamente aos clientes, o que demandará mais capital provisionado.

A ideia de criar a Conta Simples surgiu quando Rodrigo tocava seu primeiro negócio — uma fintech de pagamento por QR Code que acabou falindo. Na época, ele sentiu na pele a burocracia de abrir uma conta PJ nos bancões e a experiência “pouco amigável” das soluções incumbentes.

A ideia foi trazer para o Brasil a experiência da Qonto, uma fintech francesa que já atraiu investidores como a Tencent e o DST Global. Outro benchmark é a Brex, que criou um cartão de crédito corporativo para startups no Vale do Silício.