Depois que o Ministro da Previdência, Carlos Lupi, reduziu o teto dos juros cobrados do empréstimo consignado para pensionistas do INSS, dez bancos privados suspenderam a oferta da linha de crédito – um movimento que foi seguido até pelos bancos estatais, o Banco do Brasil e a Caixa.
A mensagem das instituições é clara: com o novo teto, que caiu de 2,14% para 1,70%, o empréstimo não é mais viável economicamente.
Para deixar isso ainda mais claro, o Bradesco BBI resolveu calcular o lucro que os bancos têm hoje com o produto – e como ele ficaria no novo cenário.
A conclusão: com o novo teto, o consignado para o INSS só conseguiria operar no breakeven (zero de lucro) se os bancos cortassem em mais de 30% a comissão paga aos pastinhas, os intermediários que vendem o produto. Para o produto operar com a mesma lucratividade de hoje, a comissão teria que cair 60%.
Nas contas do Bradesco, a margem dos bancos no produto, com o teto anterior, era de 1,7%. Com o novo teto, essa margem passou a ser negativa em 1,1%.
Aparentemente empenhado em aparecer como o herói dos aposentados – uma tradição do trabalhismo – o Ministro Lupi claramente não fez as contas antes de dar sua canetada. Segundo relatos de Brasília, sequer conversou com os bancos públicos e tomou a decisão contra a expressa recomendação do Ministério da Fazenda.
Esta é a segunda demonstração explícita do voluntarismo inconsequente do ministro. Foi ele que disse, nos primeiros dias deste governo, que a Previdência brasileira “não é deficitária” – inaugurando o ‘terraplanismo econômico’ que domina diversas alas do Governo Lula.
A suspensão da oferta pelos bancos não é apenas uma pressão das instituições: ela obedece a uma regra do Banco Central, de 2013, que determina que quando uma operação de crédito tem margem negativa ela não pode ser realizada.
Ainda assim, em vez de reconhecer o erro, Lupi, seus aliados e setores do PT decidiram pressionar o Presidente Lula pela exoneração das recém-empossadas presidentes da Caixa e do BB – o caso inédito de um homem poderoso tentando enquadrar duas mulheres num governo que se diz progressista.
Mas como essa maneira de ver o mundo é a essência do PDT – o partido de Lupi – o presidente do partido em São Paulo, Antonio Neto, chegou a escrever em suas redes sociais que os bancos públicos se associaram ao “cartel dos bancos para chantagear e extorquir os aposentados.”
“O presidente Lula tem a caneta na mão para corrigir o problema e exonerar quem deu a ordem para a Caixa e o Banco do Brasil chantagearem o povo brasileiro. Achacadores não passarão!,” escreveu Antonio.
Reiterando sua virilidade, Lupi disse ontem às repórteres Julia Duailibi e Ana Flor que “não tem medo de cara feia.” “Assumo a conta com prazer. Estou defendendo o lado mais frágil da sociedade. Eu mato no peito.”
Na entrevista, o Ministro demonstrou estupefação com a diferença das taxas cobradas nas duas modalidades do consignado.
“Por que cobram 1,61% [de juros] dos consignados dos funcionários públicos e cobravam 2,14% do previdenciário? Um dá lucro, outro não?”
Se o Ministro gastasse mais tempo tentando entender a estrutura de custos do mercado no qual deseja intervir, ele descobriria que a diferença no custo é o trabalho do pastinha – que também é um trabalhador e precisa ser remunerado. (Ou o PDT não defende todos os trabalhadores?)
Como o pensionista do INSS que precisa do consignado tende a ser uma pessoa mais idosa e mais pobre, ele tem dificuldade em fazer o autoatendimento, e precisa da ajuda do pastinha – diferente dos servidores públicos. (O Inter, por exemplo, oferece o consignado INSS com uma taxa próxima a 1,7%, mas o velhinho tem que ser bom de computador… e até por isso, o volume que o Inter consegue emprestar nesta modalidade é ínfimo.)
Além disso, os servidores públicos pegam empréstimos com volumes maiores que os pensionistas, o que também explica a diferença nas taxas.
Entender este tipo de detalhe, no entanto, prejudica a narrativa do cavaleiro solitário na luta contra o Sistema.