O conselho da Netshoes recomendou aos acionistas que aceitem a oferta feita pelo Magazine Luiza – apesar de o valor ser menor que a última proposta da Centauro.
Estrangulada e sem capital de giro, a Netshoes está correndo contra o tempo para honrar seus compromissos com fornecedores, cujos pagamentos já foram renegociados algumas vezes.
A recomendação consta num extenso material que acompanha a convocação da assembleia que vai decidir sobre a proposta do Magalu, marcada agora para o dia 14.
O conselho sustenta que a oferta da Centauro pode demorar de dois a quatro meses a mais que a do Magalu para ser aprovada — e adverte que a liquidez da Netshoes pode não ser suficiente até lá.
“Os desafios de liquidez de curto prazo constituem uma preocupação significa em relação a proposta da Centauro”, ressalta o conselho no documento. “O diferencial incremental de preço foi insuficiente para compensar os riscos relativos ao atraso [da aprovação]”.
Recapitulando a novela: o Magalu fez a primeira proposta para comprar a Netshoes no fim de abril, por US$ 2 por ação, e detentores de 47,9% das ações — incluindo os fundadores e acionistas de referência — já concordaram com a proposta.
Três semanas depois, a Centauro surpreendeu, fazendo uma oferta de US$ 2,80 por ação. O Magalu fez a tréplica, aumentando o bid para US$ 3,00. A Centauro trucou e ofereceu US$ 3,50 por ação, mais um aporte de R$ 70 milhões logo após aprovação em assembleia para minimizar as preocupações com capital de giro.
Na recomendação enviada hoje, o conselho sinaliza que nem essa injeção de capital é suficiente.
Ao fim de 2018, a Netshoes não tinha dinheiro para honrar suas dívidas de curto prazo. O buraco (com vencimento em um ano). O buraco era de R$ 23 milhões. Só no ano passado, a operação queimou R$ 100 milhões em caixa. A situação vem se deteriorando rapidamente neste ano.
A oferta do Magalu já foi aprovada pelo Cade, em 22 de maio, em rito sumário. Caso ela seja negada, será necessário convocar outra assembleia de acionistas para deliberar sobre a oferta da Centauro — e, por se tratarem de concorrentes diretas, se aceita, a transação provavelmente seria analisada em rito ordinário no órgão antitruste, que leva mais tempo.
Para justificar sua posição, o conselho trouxe uma detalhada — e pouco usual — linha do tempo de como foram as negociações para a venda da Netshoes.
O processo de venda teve início em agosto de 2018 e teve, inicialmente, nove interessados. Uma empresa chamada de ‘Parte A’ no documento — a B2W, segundo fontes — chegou a fazer uma oferta pela Netshoes no começo do ano, mas o conselho rejeitou.
O fechamento do balanço de 2018, em março, no entanto, mostrou que a situação de caixa era pior que o esperado — o que aparentemente tomou o conselho de surpresa.
“Em 21 de março, esses novos desenvolvimentos foram trazidos ao conselho pela direção, particularmente a deterioração da posição de liquidez pior que o esperado”, diz a companhia.
“O conselho prontamente requisitou que o CEO e outros membros do management tomassem várias ações em resposta a esse problema, incluindo a retençao de profissionais para avaliar a posição de caixa da companhia e ajudar a instituir estratégias de preservação de caixa”.
O processo de venda foi retomado e Magazine Luiza e B2W voltaram à mesa em abril. A primeira oferta do Magalu — rejeitada pelo conselho — foi de US$ 1,50 por ação, metade do que a companhia está se dispondo a pagar agora.