Se não pode com eles, junte-se a eles. 

Ao longo de 92 anos, a Strand Book Store se converteu num daqueles mais aprazíveis recantos de Nova York, um oásis de livros em meio à selva urbana — e um lugar de hangout tanto para estudantes da NYU quanto turistas em geral.

Mas depois de anos na trincheira (metafórica) da resistência, na qual as livrarias físicas tentam sobreviver ao avanço da Amazon, a dona da Strand parece ter jogado a toalha. 

Nancy Bass Wyden comprou algo entre US$ 115.000 e US$ 250.000 em ações da gigante do e-commerce nos últimos dois meses.

(Tipicamente, investidores pessoas físicas não são obrigados a divulgar suas compras, mas Nancy é casada com um agente público, o senador democrata pelo Oregon, Ron Wyden).

Neta do fundador da Strand, que abriu as portas em 1927 às vésperas da Grande Depressão, Nancy sempre foi uma crítica feroz da Amazon. 

No ano passado, a empresária chegou a publicar um artigo de opinião criticando os privilégios que o Governo concede às Big Techs (especialmente a Amazon) em detrimento dos pequenos negócios locais.

Mas agora, Nancy parece estar lendo menos Scott Galloway, e mais Ayn Rand.

Num comunicado enviado à Barron’s, ela explicou que, como proprietária de um pequeno negócio em tempos difíceis, “foi necessário diversificar meu portfólio pessoal e investir em ações que estão performando bem.”

“Eu tenho que garantir que tenho os recursos para manter a Strand funcionando,” disse ela. “Continuo me posicionando contra os benefícios injustos que os governos locais oferecem a corporações gigantes como a Amazon, mas a oportunidade econômica apresentada pela infeliz desaceleração do mercado vai permitir que eu mantenha a Strand aberta.”

A Strand só se mudou para sua localização atual — entre a 12th Street e a Broadway, no East Village — em 1957, trinta anos depois de sua fundação. Com seus 11 andares e milhares de livros, a livraria se tornou um ponto icônico da cidade, tornando-se no ano passado parte do patrimônio histórico de Nova York. 

O que era para ser uma homenagem a um “dos lugares mais especiais da nossa cidade”, como disse na época o prefeito Bill de Blasio, tornou-se um pesadelo para Nancy — complicando ainda mais uma situação já difícil para a livraria. 

“Isso vai adicionar muita burocracia, além de custos com os quais não temos condições de arcar. O governo deveria estar fazendo o oposto,” ela disse ao The Guardian na época. 

Desde então, Nancy está processando a cidade, pedindo a revogação da medida. 

Além da Amazon, ela também investiu em outras empresas de tech: Facebook, PayPal e a fabricante de chips Nvidia. Pelo jeito, nada de varejo físico.