O escritório da startup Versa Fuel é decorado com duas fotos: uma retrata o primeiro posto de gasolina do mundo, aberto em 1888; a outra mostra um posto dos dias de hoje. 

“Brincamos que só houve duas grandes mudanças: a cor das fotos e os veículos,” Ricardo Amaro, o fundador da startup, disse ao Brazil Journal. “É um mercado que nunca teve muita inovação e que opera no mesmo modelo há décadas.”

BOOPO RICARDO AMAROPara levar os postos para o século 21, Ricardo se juntou a seu irmão João Amaro e a Matheus Haigh Amaral. Os três acabam de fundar a Versa Fuel, que se autodenomina a primeira empresa de delivery de combustíveis do Brasil.

A Versa fecha parceria com os postos de combustíveis e leva gasolina e etanol para abastecer o carro onde ele estiver, operando tanto no B2B quanto no B2C. 

A startup — que faz a entrega em vans e caminhões adaptados com bombas — já tem a Localiza como cliente, e acaba de fechar um contrato com a DHL, a empresa de logística. A Localiza está usando o serviço em uma unidade de aluguel de carros para frotistas em São Paulo, e a DHL vai usar em uma de suas operações em Jundiaí. As duas estão estudando aumentar o escopo do trabalho. 

A cereja do bolo: os fundadores dizem que conseguem vender a gasolina mais barato do que no posto, já que eles não têm o custo do aluguel, dos funcionários e da energia elétrica.

O desconto varia dependendo da região por conta dos custos logísticos, mas, em média, a gasolina vendida pela Versa é R$ 0,20 mais barata que a do posto.

No modelo atual, a startup divide o lucro da operação com o posto de gasolina parceiro. O share varia de acordo com quem comprou o veículo que fez a entrega (a Versa ou o posto), e se o posto usa o sistema de pagamento da Versa.

A margem de lucro da Versa é bem semelhante à dos postos, já que toda a diferença de custo é repassada para o consumidor final. 

“Em números fictícios imagina que o posto compra a gasolina a R$ 4 da distribuidora e vende a R$ 6 porque ele tem R$ 1 de custos e quer R$ 1 de lucro. A Versa quer o mesmo R$ 1 de lucro, mas só temos R$ 0,80 de custos. Essa diferença repassamos para o cliente.”

Para o posto, a parceria é interessante porque a Versa aumenta o volume de venda mensal sem que ele tenha um aumento de custo. Já para a Versa, a parceria com o posto é uma exigência da regulação: hoje, a ANP só permite que postos credenciados comprem combustível das distribuidoras. 

Em outros países a realidade é outra. Nos EUA, por exemplo, a Booster Fuel — o principal benchmark da Versa — compra direto das distribuidoras, apropriando-se de todo o economics e competindo com os postos. 

Em sua última rodada privada, a Booster levantou US$ 125 milhões com fundos de VC e com a Mitsubishi. 

Para conseguir operar no Brasil, a Versa passou o último ano conversando com a ANP e conseguindo diversas licenças, já que o modelo de operação basicamente foi criado do zero. A startup primeiro conseguiu uma licença temporária para operar em beta por 180 dias e, quando o prazo acabou, teve o aval para operar de forma definitiva. 

Num momento em que a eletrificação domina as discussões do setor automotivo, falar em delivery de combustíveis pode parecer uma aposta no passado. Mas os fundadores garantem que o modelo de negócios já está preparado para a transição. 

Segundo Ricardo, a Booster, por exemplo, já criou um serviço nos EUA de carregamento elétrico por delivery — basicamente fazendo a mesma coisa que ela faz com os combustíveis para o carro elétrico. 

“Ainda não temos esse serviço porque o Brasil está bem atrás na eletrificação. Mas podemos migrar facilmente para esse modelo.” 

Ricardo teve a ideia da Versa quando um amigo da faculdade mandou uma mensagem para ele com apenas uma palavra: f&*deu. O motivo: sua gasolina tinha acabado no meio da rua e ele não sabia o que fazer.

“Falei para ele que eu ia mandar um delivery de combustível. Mas quando fui pesquisar no Google vi que não existia nada do tipo no Brasil.” 

Para tirar a ideia do papel, os fundadores levantaram uma primeira rodada dentro de casa — a família de Ricardo e João controla o Grupo Santa Joana, dono do hospital Pro Matre Paulista — e depois trouxeram investidores-anjo como Marcelo Saad, sócio da Laplace, Fabio Scripilliti, do grupo Votorantim; João Moraes, da XP; e as famílias Denker e Nahas. No total, captaram R$ 4,5 milhões.

Agora, a startup está conversando com fundos para fazer sua primeira rodada institucional. O plano é levantar entre R$ 8 milhões e R$ 10 milhões para começar a escalar sua frota de vans e caminhões. Hoje, a startup tem apenas quatro veículos rodando nas ruas, com capacidade de 900 a 1,8 mil litros.