Em 2010, Eduardo Vasconcellos enviou um email para Pedro Moreira Salles, um dos controladores do Itaú Unibanco, onde na época Eduardo trabalhava como trainee. 

11515 f9cc5757 55a9 3d6e 8c9f 9ad172d0a781No email, o jovem de 20 e poucos anos explicava a “ideia maluca” que tinha tido nas últimas semanas: criar o primeiro endowment de uma universidade brasileira, num momento em que ninguém sequer falava no assunto. 

A resposta veio menos de 30 minutos depois e, no dia seguinte, Eduardo estava na sala de Pedro apresentando um powerpoint que havia feito às pressas, de madrugada. 

Como não era ex-aluno da Poli, o controlador do Itaú não doou para o endowment, mas abriu portas que foram fundamentais para o sucesso da empreitada. 

Apresentou Jayme Garfinkel, da Porto Seguro; Pedro Passos, da Natura; Laércio Cosentino, da Totvs; e Marcelo Medeiros, da Cambuhy — todos ex-alunos. 

As conversas foram o embrião do ‘Amigos da Poli’, que hoje tem pouco mais de R$ 35 milhões sob gestão, mas que nasceu da ideia e da persistência de Eduardo e outros cinco amigos (Marcos Matsutani, Diego Martins, Ricardo Milani, Matias Tomazeli e Maximo Gonzalez) — que tiveram que enfrentar a resistência da universidade, de professores e até de outros alunos.

“Era uma coisa que fazíamos no horário livre, pro bono, quando tínhamos um tempo entre o estudo e o trabalho,” diz Eduardo, que presidiu o endowment pelos primeiros dois anos e hoje trabalha na Valor Capital, a gestora de venture capital. “Todos os sábados a gente se reunia às 9h no Starbucks da Rua Amauri para discutir como seria o fundo.”

Eduardo lembra que quando foi apresentar o conceito na universidade, tomou — para sua surpresa — um banho de água fria de todos os lados. O ceticismo era a norma entre os stakeholders. 

Em dado momento, ele recebeu uma ligação hostil de um membro do sindicato dos professores, que o acusou de tentar “privatizar” a universidade. 

“O argumento deles era que a universidade tinha um orçamento e a decisão de como alocar esse dinheiro tinha que ser só deles… então a gente tinha que doar o dinheiro e simplesmente deixar eles decidirem como usar.”

A situação só se acalmou depois que o endowment conseguiu aplicar os recursos e fazer as primeiras doações com os rendimentos anuais. 

Um dos primeiros projetos que o Amigos da Poli financiou foi a participação da Poli numa disciplina de design thinking de Stanford. 

A ideia era que o endowment fizesse uma doação para que um professor e seis alunos cursassem a disciplina por um semestre, mas a diretoria do fundo deu a ideia de bancar a disciplina por alguns anos para um professor, para que ele pegasse a expertise e introduzisse a disciplina na grade curricular da Poli, beneficiando centenas de outros alunos. 

Mais recentemente, durante a pandemia, o Amigos da Poli abriu um edital para financiar inovações ligadas à covid. Um dos projetos permitiu construir 27 mil ‘face shields’ a um custo sensivelmente menor usando impressoras 3D. 

Hoje, os R$ 35 milhões aplicados já estão se revertendo em mais de R$ 1 milhão em doações por ano. 

Apesar do sucesso do endowment, levou mais de 10 anos até que outras universidades decidissem seguir o exemplo dos meninos da Poli. 

Eduardo admite que a universidade sempre teve uma vantagem injusta — o fato de muitos de seus ex-alunos serem empresários e investidores bem-sucedidos, com contas bancárias capazes de fazer altas doações. 

“Mas sempre acreditamos no poder do exemplo. Essa ideia de criar algo grande, que pudesse influenciar outras gerações, foi algo que sempre nos fez seguir em frente — mesmo no ambiente hostil que encontramos no começo.”

ARQUIVO BJ

Pouco a pouco, os endowments estão brotando no Brasil

MEMÓRIA: David Swensen, que transformou o método de investir