Quando assumiu o posto de chief investment officer de Yale em 1985, David Swensen encontrou um portfólio clássico para a época: ações domésticas americanas e renda fixa.
Questionando a lógica de se ter renda fixa — com seus baixos retornos esperados — em um portfólio de longo prazo, David buscou formas mais eficientes de se investir o capital e obter retornos mais altos.
Mas foi além. Foi o primeiro CIO de um endowment a classificar “retorno absoluto” como uma classe de ativos, porque entendia que os tais hedge funds eram veículos que exploravam ineficiências dos mercados, que nada tinham a ver com a direção dos índices de ações ou renda fixa.
David também constatou que quanto mais líquido e fácil de ser acessado um mercado, menores as chances de gerar retornos diferenciados. Isso o levou a olhar para mercados internacionais, mercados emergentes, venture capital e private equity.
Para se apropriar do prêmio de liquidez, decidiu focar parte do portfólio de Yale em ilíquidos. A lógica era que, como eram mais difíceis de ser acessados, esses ativos deveriam ser mais baratos e consequentemente teriam mais ‘upside’. Ao invés de fugir da iliquidez, David criou o conceito de ‘intelligent acceptance of illiquidity’, ou seja, aceitar iliquidez quando fizesse sentido.
Acima de tudo, David decidiu de cara que não atingiria retornos excepcionais montando sua própria equipe de investimentos diretos. Os raros talentos que conseguem superar seus mercados normalmente preferem ter suas próprias gestoras. Daí a importância de se investir em gestores externos.
Todo esse método de tornou o “Yale Model”, a soma de ‘asset allocation’, a combinação de ativos que respondem diferentemente às forças que movem os mercados, com ‘manager selection.’
Com o passar dos anos, o termo “gestão de endowment” virou uma frase genérica, usada especialmente para justificar a inclusão de quaisquer ativos alternativos em portfólios. Mas curiosamente, o segredo de David não era esse: ele está na seleção dos gestores.
Para ele, o caráter é o critério mais importante na seleção dos gestores. “Good people can overcome bad contracts, but good contracts cannot overcome bad people,” disse em várias ocasiões.
Nesse sentido, referências independentes, tanto pessoais como profissionais, são fundamentais. O ‘edge’ na escolha de um bom gestor não está nas análises quantitativas que todos podem fazer, nem no que aparece nos tão elaborados questionários de due diligence.
David sempre queria conhecer as pessoas: passar tempo no escritório, conhecer a equipe, e principalmente, jantar com todos. Tive o prazer de participar de um jantar no qual ele oferecia taças de vinho aos sócios da gestora que estava analisando e contava histórias divertidas — sempre intercalava perguntas simpáticas que no fundo lhe ajudavam a aferir justamente o caráter da equipe.
Competência ímpar e caráter impecável precisavam sempre ser acompanhados de forte alinhamento de interesses. David gostava de gestores focados. Dizia que os melhores colocam todos os seus ovos em uma cesta e cuidam dessa cesta com afinco. Gestoras diversificadas, por sua vez, “seek income growth at the expense of investment performance” – e procuram não desviar muito do óbvio para não correr o risco de errarem sozinhos.
Hoje, a maioria das universidades americanas diz que investe de acordo com o “Yale model”, com alternativos, ilíquidos, etc. Dito isso, nos últimos 10 anos o endowment de Yale gerou US$ 9,5 bilhões a mais de retorno do que se tivesse tido a performance média de seus pares. A diferença (e que diferença!) veio da sua habilidade de selecionar os melhores gestores.
David Swensen faleceu ontem, depois de uma batalha de nove anos contra um câncer. Seu legado continuará beneficiando centenas de milhares de alunos e causas sociais. Seus discípulos, profissionais que trabalharam em sua equipe nas últimas três décadas, gerem hoje não apenas o endowment de Yale, mas também das universidades de Princeton, Stanford, MIT, Penn, Wesleyan, Rockefeller e Smith, além do Metropolitan Museum e mais de uma dezena de outras grandes fundações filantrópicas.
Arthur Mizne é sócio fundador da M Square.