Foi um negócio da China — literalmente.
A BRF comprou no ano passado uma fábrica de processados na província de Henan, na região central do país, pagando pelo ativo uma fração de seu custo de reposição.
A planta havia sido construída em 2013 pela americana OSI por mais de US$ 150 milhões. Dez anos depois, a BRF desembolsou US$ 43 milhões para ficar com o ativo — menos de um terço do valor original.
A oportunidade surgiu por conta de uma crise que a OSI enfrentava. O McDonald’s havia cortado um contrato de fornecimento com a empresa, o que fez com que a fábrica na China operasse com uma ociosidade enorme — o que derrubou o preço na venda.
“Apesar da alta ociosidade, era uma planta muito bem mantida, que estava com todas as manutenções em dia,” disse uma fonte próxima à BRF. “Não era um esqueleto.”
A oportunidade de comprar a planta foi originada por Marcos Molina, o controlador da Marfrig, que por sua vez controla a BRF e está tentando se fundir com a dona das marcas Sadia e Perdigão.
A OSI é acionista da Marfrig desde 2008, quando a brasileira comprou o grupo Moy Park da americana. De lá para cá, a OSI não vendeu nenhuma ação.
Quando o fundador da OSI procurou Molina propondo o negócio da China, o empresário avaliou que a transação faria mais sentido para a BRF dado o perfil do ativo.
A compra da planta de Henan representa uma volta indireta da Marfrig ao mercado asiático. A companhia já havia operado na região por alguns anos, mas saiu de lá ao vender a Keystone para a Tyson em 2018.
A decisão de entrar novamente teve a ver com uma visão oportunística de Molina e uma avaliação do potencial do mercado. “Ele viu que os americanos estavam saindo do mercado chinês em parte por um desalinhamento geopolítico, o que abriu um gap no mercado,” disse a fonte próxima à BRF.
Além da OSI, a Cargill colocou ativos à venda na China recentemente, assim como a Tyson, que está vendendo os ativos na região que havia adquirido na transação da Keystone.
“O mercado chinês também tem uma oportunidade enorme. Só na província de Henan são mais de 100 milhões de habitantes. Se você contar as províncias ao redor dá mais de 400 milhões, duas vezes o tamanho do Brasil,” disse a fonte.
A planta adquirida pela BRF vai produzir processados multiproteínas: suínos, frangos e bovinos.
A fábrica já tem linhas de produção de suínos e frangos, e a BRF já está construindo uma nova linha para hambúrgueres de carne bovina.
“Na China, o bovino não é tão relevante quanto o suíno, o frango e o peixe. Mas dado o tamanho da população, qualquer 1 kg de consumo per capita já é algo muito relevante,” disse a fonte.
A capacidade atual da planta é de 30 mil toneladas por ano, e o plano da BRF é dobrar essa capacidade num horizonte de 12 a 18 meses. Para isso, segundo essa fonte, a companhia vai fazer um capex de US$ 36 milhões.
A expectativa da BRF é que a fábrica chinesa não tenha nenhuma ociosidade dado o crescimento da demanda por processados, seja para redes de restaurantes ou para o consumo em casa.
A estratégia de go to market da BRF será vender para o McDonald’s e redes de food service locais, além de supermercados. Parte da produção será destinada à exportação.
Para o tamanho da MBRF — a empresa que deve surgir da fusão da Marfrig com a BRF — a planta na China é pouco relevante. No total, a nova companhia terá capacidade de 8 milhões de toneladas em suas plantas de abate e processados, que respondem por 38% do total.
Mas a fábrica da China será a segunda maior da MBRF em capacidade fora das Américas — atrás apenas de uma planta no Oriente Médio.
“E a fábrica é um encaixe perfeito com a estratégia da companhia de ampliar sua presença global, diversificando o footprint e aumentando a oferta de produtos de valor agregado,” disse a fonte. “Foi o preço certo, no lugar certo, e na hora certa.”