A Kellogg, gigante americana dos sucrilhos e snacks, acaba de anunciar a compra da Parati Alimentos, uma empresa familiar de Santa Catarina, por R$ 1,38 bilhão.  

O negócio ocorre um ano após a morte do fundador da Parati, Ângelo Fantin. Imigrante italiano, ele chegou em 1949 à pequena São Lourenço do Oeste, onde ergueu sua fábrica.  O negócio estava sob o comando de seu filho, Mauro, que ocupava o cargo de CEO. Outras cinco filhas também eram acionistas.

Apesar de ainda não figurar entre as líderes de mercado, a Parati vem crescendo a taxas expressivas. Com presença forte no Sul, a empresa começou uma estratégia mais agressiva de distribuição para o restante do País há cerca de cinco anos.

A Parati teve faturamento de R$ 549 milhões no ano passado, lucro de R$ 91 milhões e margem EBITDA de 16%.

Assumindo um faturamento de R$ 600 milhões este ano, e assumindo que os ajustes necessários ao EBITDA — típicos quando uma multinacional compra uma empresa familiar — tragam a margem para 13%, a Kellogg pode ter pago um múltiplo de até 17x EBITDA.  Por outro lado, como em toda ‘compra de plataforma’ — em que a empresa adquirida possui marcas, fábricas e canal de distribuição — a Kellogg fatalmente conseguirá economias significativas ao integrar a Parati à sua operação já existente no Brasil.

O Credit Suisse assessorou a Parati.

Cerca de metade das vendas da empresa são geradas por seu negócio de biscoitos, que inclui as marcas Parati, Pádua, Minueto, Zoo Cartoon, Hot Cracker e Minueto.  O restante do faturamento vem de sucos em pó, massas secas, macarrão instantâneo, chocolates e barras de cereais. Ao todo, a empresa fabrica mais de 400 itens.

A aquisição da Parati foi a quarta da Kellogg em mercados emergentes nos últimos dois anos — e parte da meta da empresa de dobrar sua presença nestes mercados até 2020. No ano passado, a empresa fez duas aquisições no Egito e uma na Nigéria.

A busca por novos mercados é a resposta da empresa à estagnação nos Estados Unidos, onde a venda de produtos processados vem sofrendo com a procura por produtos mais saudáveis.  Além disso, a Kellogg está tendo que se adaptar a outra mudança de hábito: os americanos estão abrindo mão de cereais matinais no café da manhã e preferindo alimentos que podem ser consumidos a caminho da escola ou do trabalho.

Um estudo da Euromonitor mostra que, no ano passado, a venda de cereais caiu 2% na América do Norte. A expectativa é que caia mais 4% até 2020.

A aquisição — num momento em que multinacionais americanas e europeias gozam de taxas de captação historicamente baixas — é a quarta compra bilionária de uma empresa brasileira de alimentos feita por uma gigante americana.

No início de 2011, a antiga Heinz comprou 80% da Quero Alimentos por um valor estimado em R$1,1 bilhão.

No final daquele ano, a Pepsico pagou cerca de R$900 milhões pela Biscoitos Mabel.

Em 2012, a General Mills pagou R$2 bilhões pela Yoki Alimentos.

Todas essas transações tiveram um denominador comum: o ativo sendo adquirido tinha escala suficiente para servir como plataforma de entrada (ou consolidação) no Brasil, porque incluía marcas, fábricas e acesso a canais de distribuição.

“Hoje, as pequenas empresas do setor têm dificuldade até de conseguir a atenção de fundos de private equity, enquanto as que têm escala conseguem múltiplos absurdos,” diz um banqueiro que conhece bem o setor.  “São duas realidades diametralmente opostas dentro do mesmo setor.”

Mas a mãe de todos os M&As do setor seria a venda da M Dias Branco, cujo fundador morreu este ano.  Uma vez que a família decida vender a empresa, banqueiros esperam uma fila de compradores na porta.