Francisco Ivens de Sá Dias Branco, que catapultou a padaria de seu pai para um negócio bilionário que é a inveja de multinacionais como a Pepsico e a Mondelez, morreu sexta-feira em São Paulo, possivelmente inaugurando uma era de especulações sobre o futuro da empresa.
A M. Dias Branco, que ele controlava, é a maior fabricante brasileira de massas e biscoitos, com quase 30% do mercado nacional, e a quarta maior do mundo. A empresa vale 11 bilhões de reais na Bovespa, transformando o ‘seu Ivens’ um raro (senão único) bilionário nordestino cuja fortuna é precificada diariamente na Bolsa.
Talvez o maior diferencial da M Dias Branco seja sua logística. Desde cedo, a empresa focou no pequeno varejo: suas kombis e vans saíam de sua Fábrica Fortaleza ainda de madrugada para chegar nas padarias e mercadinhos antes dos caminhões da Coca-Cola e da Souza Cruz, dando-lhe uma vantagem tática decisiva para atacar o caixa de seus clientes. Essas rotas se mostraram irreplicáveis, e as concorrentes multinacionais não viram outra saída que não cortejar o seu Ivens, tentando comprar a empresa.
Apesar de toda sua singularidade, a Dias Branco também é uma estória bem brasileira: grande parte de seu crescimento se deu em cima de incentivos fiscais, que os investidores sempre consideraram seu calcanhar de Aquiles.
Em 1953, Ivens tornou-se sócio da Padaria Imperial (razão social: M. Dias Branco & Cia. Ltda.), fundada por seu pai. Nem o velho Manuel Dias Branco — um português que veio tentar a vida no Brasil com 18 anos — talvez imaginasse que o filho levaria a empresa tão longe. Um passo crucial foi a verticalização do negócio: em 1990, a M Dias Branco abriu sua primeira fábrica de moagem de trigo (hoje tem 14), permitindo um maior controle de custos e maiores margens.
Em 2006, Ivens ousou ao abrir o capital da empresa, o que lhe permitiu comprar 11 marcas regionais, incluindo seus principais concorrentes — Vitarella, Pilar e Estrela. Com a marca Adria, comprou sua entrada nas gôndolas do Sul e Sudeste, aventurando-se pela primeira e única vez fora de seu enclave nordestino. Os acionistas minoritários sempre reclamaram do conservadorismo da empresa, que deixou de fazer diversas aquisições, mas, filho de português, seu Ivens não aceitava pagar caro. Outra oportunidade de crescimento ainda não explorada inclui novas categorias além das massas e biscoitos, como molho de tomate, chocolates e produtos saudáveis. Há pelo menos 10 anos, Ivens confiou boa parte da gestão da M Dias Branco ao executivo Geraldo Luciano.
O empresário morreu na sexta-feira, depois de complicações de uma cirurgia cardíaca no Hospital Albert Einstein. Sobrevivem-lhe a mulher, conselheira da empresa, e seus cinco filhos. Ele tinha 81 anos.
Depois do necessário respeito ao luto, investidores estratégicos voltarão a sondar o interesse da família numa venda da empresa. Uma pessoa que conhece a família diz que os irmãos são muito unidos, e qualquer transação pode demorar anos. “Ninguém vai sair correndo pra vender,” diz esta fonte. “E não haverá ruptura. Eles são apaixonados pela empresa.”
Analistas que acompanham a M Dias Branco há anos dizem que ela pode valer, nas mãos de um concorrente, até o dobro do que vale no mercado. Esta transação, quando acontecer, será o legado final do seu Ivens.