A Clash — a holding dona da Mutant, uma empresa que usa IA para automatizar o atendimento aos clientes — acaba de colocar quase meio bilhão de reais no caixa, capitalizando-se para novos M&As e investimentos em tecnologia.

A rodada de dívida, de US$ 75 milhões, foi feita com a BlackRock, que investiu por meio de sua vertical de emerging markets.

Com a operação, a Clash vai passar de dívida zero para uma alavancagem de cerca de 2,7x seu EBITDA de R$ 150 milhões. 

O primeiro e maior negócio da empresa é a Mutant – que tem uma receita de R$ 300 milhões — mas a Clash ainda tem quatro outros negócios. 

A Myra, que monitora as interações das empresas com os consumidores, gerando insights, fatura R$ 60 milhões; a Interaxa, uma revendedora de softwares da Salesforce, Genesys e Sprinkler, outros R$ 250 milhões; enquanto a Intervalor e a GRB, que operam no mercado de cobranças de dívidas, faturam R$ 200 milhões e R$ 230 milhões, respectivamente. 

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Os maiores acionistas da Clash são a firma de private equity inglesa Permira, o GIC e a gestora americana TCV, um dos primeiros investidores de Facebook, Netflix e Spotify, e acionista do Nubank. 

Completam o captable os co-fundadores Alexandre Bichir e Rouman Ziemkiewicz, além de executivos que fazem parte da partnership.

Bichir disse que as cinco companhias do portfólio geram caixa, e que a holding vinha crescendo nos últimos anos apenas com capital próprio. 

“Mas temos investido cada vez mais em inteligência artificial generativa, principalmente nos negócios de cobrança, e isso é uma corrida,” o CEO disse ao Brazil Journal. “Já estamos bem posicionados, mas para manter essa posição de liderança achamos que tínhamos que colocar mais capital na mesa.”

Segundo ele, os recursos serão usados para M&As e para investir mais em IA — basicamente, treinando robôs para fazer um atendimento cada vez mais assertivo e humanizado. 

Jonathan Schwartz, o portfolio manager para mercados emergentes da BlackRock, disse que a Clash opera num mercado de rápido crescimento, tem um modelo escalável e vem demonstrando uma boa execução. “Buscamos investir em companhias que combinam inovação com um forte potencial de lucratividade, e a Clash se alinha com essa visão,” disse ele. 

Nos últimos anos, a maior aposta da Clash tem sido o mercado de cobranças. 

Em 2022, ela comprou a Intervalor, um call center tradicional de cobrança de dívidas, e transformou o negócio automatizando boa parte das interações com agentes de IA — deixando as cobranças humanas apenas para os casos mais complexos.

“Quando compramos a Intervalor, ela faturava R$ 80 milhões e tinha margem negativa. Hoje a receita mais que dobrou e a margem EBITDA está acima de 30%,” disse Bichir. 

Duas semanas atrás, a Clash fez outro M&A neste mercado: comprou a GRB — também um call center tradicional, sem nenhuma automação — com o objetivo de replicar a estratégia. 

Na Mutant, a IA também tem um papel central, já que a companhia automatiza o atendimento ao cliente com chatbots, para evitar que o call center do cliente seja acionado, o que geraria custos maiores. A Mutant atende companhias como a Claro e a Yduqs, competindo, por exemplo, com a Blip, que tem o Warburg Pincus e o Softbank como investidores

A Clash nasceu há nove anos de um spinoff da Genesys, uma multinacional de customer experience com sede em Menlo Park. 

Em 2011, Bichir havia vendido sua empresa — a LM Sistemas — para a Genesys, tornando-se um executivo da companhia. 

Cinco anos depois, “a relação cambial ficou muito ruim para o Brasil e aquilo gerou a oportunidade de fazermos um management buyout,” disse Bichir. “Os principais acionistas da Genesys [Permira, GIC e TCV] embarcaram na ideia e fizemos o spinoff da operação brasileira, criando a Mutant.”

Em 2018, a companhia chegou a fazer outra captação de dívida, levantando US$ 85 milhões com o CPPIB. 

“Mas na pandemia o custo dessa dívida aumentou muito por causa do câmbio e resolvemos vender uma empresa para zerar essa dívida,” disse ele.

Na época, a Clash tinha uma consultoria de transformação digital — a Dextra — e vendeu o negócio por R$ 900 milhões para a CI&T.