O deputado federal Tiririca disse ontem que não vai concorrer à reeleição, rompendo com um Congresso que vive de costas para o País e se dizendo “decepcionado” e “envergonhado” com a política e o Parlamento.

O homem que ganha a vida rindo e fazendo rir tinha a voz embargada, e em muitos momentos parecia prestes a sucumbir ao choro.

A piada veio pronta: o Congresso brasileiro faz até um palhaço perder a graça.

No momento em que o Brasil conduz uma autópsia da política tradicional (de Aécio a Lula) no rastro da Lava Jato, e em que não parecia restar nada a ser dito sobre nossas desilusões, Tiririca conseguiu sintetizar tudo num discurso improvisado de oito minutos.

Não foi grandiloquente.  Não tentou falar bonito.  Manteve, na sintaxe e na gramática, a simplicidade pela qual é conhecido.

Mas poucos gestos poderiam ser mais poderosos do que sua renúncia a uma vida de privilégios e mordomias, ao pertencimento a uma casta que age (ainda hoje) como dona do Estado, em vez de sua humilde servidora.

Tiririca — que teria uma reeleição garantida — prefere abandonar tudo isso e se juntar ao povo na planície.

O palhaço que fala sério virou subitamente o intérprete de tudo que achamos de nossos políticos — esses velhacos que precisam ser despachados para casa em 2018 na maior renovação parlamentar da história da República.

O recado de Tiririca é um convite à ação. O candidato que um dia brincou na campanha — “Vote no Tiririca: Pior que está não fica” — descobriu que a coisa pode sempre piorar se o eleitor se deixar fazer de otário.  

A imprensa notou que Tiririca deixa a Câmara “sem aprovar um projeto sequer”.  Mas, em que pese toda essa sua suposta ineficácia, Tiririca certamente fez menos mal ao País do que a maioria de seus colegas, comensais no eterno banquete de cargos, sócios na traficância de prestígio, e especialistas na criação de dificuldades para vender facilidades que é a essência do baixo clero.

Quantos congressistas podem honestamente dizer que saem do Parlamento maiores do que entraram?

Tiririca parece ser sincero, apesar desta não ser a primeira vez que ele ‘desiste’ de ser deputado.  Em 2013, disse que não disputaria a reeleição no ano seguinte, alegando a incompatibilidade da agenda de deputado com a necessidade de fazer shows. 

Em seu discurso de despedida, Tiririca apontou sete pecados do Congresso.  Não os apresentou como uma lista, não sistematizou nada, mas cada frase sua era um indiciamento do status quo.

Abaixo, os sete pecados do Congresso no desabafo de Francisco Everardo Oliveira Silva, o Tiririca — o homem que começou no circo aos oito anos, mas sente que o Brasil já perdeu a graça.



1) Colocar o partido acima do País

“Vamos olhar um pouco para o nosso país, vamos esquecer as brigas, esquecer um pouco o ego.”

2) A falta de compromisso com o mandato

“São 513 deputados, só 8 mais assíduos — eu sou um dos oito.  Um palhaço de circo, de profissão.”

3) O clientelismo para manter o curral

“Fui votado no Estado de São Paulo todo.  Tento não repetir cidades: não tenho base. Eu mando as emendas não por votação.  Cidade que eu tive 10 votos eu mando emenda pra lá.”

4) As mordomias

“A gente é bem pago. A gente tira livre R$ 23 mil.  A gente tem apartamento, direito a carro.  Eu uso o meu carro.  Eu não preciso do carro da Câmara. Mas a gente tem toda essa mordomia, sem falar na carteirada que muitos de vocês dão.”

5) Empatia zero

“Muitos de vocês não sabem o que é passar fome, precisar de um hospital público.”

6) A política como profissão, e não como contribuição

“Sou um artista popular e ESTOU político.”

7) Um Legislativo ineficiente

“Tem gente boa, mas não dá pra fazer muita coisa, porque a mecânica daqui é louca.  Eu costumo dizer que o parlamentar trabalha muito e produz pouco.”