A Camargo Correa está em conversas avançadas com investidores chineses para a venda de sua participação na CPFL Energia, disseram duas fontes a par da situação.
Como sempre acontece em qualquer negociação, não há garantia de que um acordo será assinado, mas uma das fontes disse que a transação está bem encaminhada e deve ser anunciada nos próximos dias.
A parte da Camargo na CPFL está à venda há pelo menos dois anos, mesmo antes da empreiteira se enrolar na Lava Jato.
A Camargo tem 23,6% da CPFL, uma empresa integrada, dona de ativos de geração e distribuição. A Previ tem outros 29,4%, e um grupo de fundos de pensão (Funcesp, Petros, Sistel e Sabesprev) são donos de mais 15,1%. Todos estes investidores participam de um acordo de acionistas. Os acionistas minoritários — o chamado ‘free float’ — controlam 32% da empresa, que vale 20 bilhões de reais na Bovespa.
No mercado, a possibilidade de uma transação — ainda mais a um prêmio significativo — encontra céticos. Para eles, um dos grandes impedimentos a um acordo são as repercussões da Lava Jato, na medida em que potenciais compradores temem que os ativos da Camargo possam se tornar alvo de uma ação indenizatória por parte do Ministério Público.
Outro ponto de interrogação seria o preço. Uma das fontes disse que os chineses pagarão ‘um prêmio substancial’, mas, assumindo um prêmio de 50% sobre seu valor de mercado, a CPFL custaria 30 bilhões de reais, ou cerca de 8 bilhões de dólares. “Por este preço, o mesmo investidor poderia levar a Eletropaulo, que vale 3 bilhões de reais na Bovespa, e ainda os ativos da Duke Energy no Brasil, Colômbia e Peru, e ainda haveria troco,” disse uma fonte do setor. A Duke quer 2,5 bilhões de dólares pelos ativos nestes três países.
A CPFL é o segundo grande ativo de energia brasileiro que está sendo negociado com os chineses, que aparentemente se transformaram nos compradores de última instância de um setor que foi dizimado pela heterodoxia regulatória do Governo Dilma. Ontem à noite, a repórter Claudia Schuffner do Valor Econômico revelou que Odebrecht, Cemig e Andrade Gutierrez estão negociando com empresas chinesas o controle da hidrelétrica Santo Antonio por 9 bilhões de reais. As três empresas controlam 51% do capital da Madeira Energia, holding que controla a usina.
A estatal chinesa State Grid já é o maior player privado de transmissão de energia elétrica no Brasil, e outra gigante, a China Three Gorges (CTG), comprou em novembro as duas usinas que pertenciam à Cesp e cujas concessões voltaram à União: Jupiá e Ilha Solteira. A CTG já é a segunda maior geradora privada do Brasil.