Sob pressão dos manifestantes na rua, o governo chinês deu meia volta na sua política de covid zero praticamente da noite para o dia. A grande questão para os mercados é se a reabertura será duradoura e quais os possíveis efeitos na economia e nos ativos financeiros ao redor do mundo. 

Segundo o BTG, a reabertura não deverá ser linear, podendo ser pontuada por um número elevado de casos e um aumento do número de óbitos. Mas para os analistas, o mercado chinês voltou a ser “investível,” ainda que a alocação demande “seletividade”.  

Os analistas incorporaram em seus cenários uma valorização das commodities, até porque muitas parecem ter atingido um piso, sendo negociadas próximas ao preço de custo

O BTG diz que, no Brasil, os ativos mais favorecidos pela abertura chinesa são Gerdau, Vale e Suzano. 

No relatório Reabertura da China, os analistas estimam que, no cenário mais provável, a reabertura só ganhará tração no segundo tri do próximo ano, quando ocorrerão as reuniões anuais do Congresso Nacional do Povo e da Conferência Consultiva Política do Povo Chinês.

“A reabertura da China após tais mudanças tornou-se o grande tema de mercado para definição de posicionamento de risco, em conjunto com as decisões de política monetária pelos principais Bancos Centrais,” diz o relatório dos analistas Álvaro Frasson, Arthur Mota, Leonardo Paiva e Luiza Paparounis.

Em seu cenário-base, o BTG estima que o PIB chinês crescerá 4,85% em 2023. Em um cenário mais otimista, com sucesso na campanha de vacinação e normalização das atividades no primeiro trimestre, a economia poderia avançar até 5,5% no ano. 

Num terceiro cenário, mais pessimista, ocorreria uma abertura prematura sem avanço na vacinação, provocando um aumento substancial de casos e óbitos. Resultado: um PIB de +3,98%. 

“É importante notar que os casos relatados de covid diminuíram nos últimos dias, em parte devido ao cancelamento de testes em massa frequentes em muitas cidades,” afirmam os analistas. 

A atual onda de contágio também não causou um aumento do número de mortes, possivelmente, em parte, pela melhora nos índices de imunização. 

As cidades começaram a permitir que a população frequente parques, supermercados, escritórios e aeroportos sem a exigência da apresentação da prova de teste negativo para covid. Outra mudança relevante no protocolo médico foi a autorização para os contaminados fazerem a quarentena em casa.

Para ser sustentável, porém, a reabertura dependerá em boa medida do avanço da vacinação, particularmente entre a população mais idosa. A imunização teve progressos, mas apenas 66% das pessoas com mais de 80 anos tomaram a segunda dose e um número ainda menor (40%) tomou a terceira.

Hong Kong iniciou a sua reabertura no primeiro trimestre deste ano, mas, com baixa cobertura vacinal, precisou voltar atrás por causa de uma intensa onda de casos e mortes — algo que poderá acontecer agora com as grandes cidades chinesas.

“Ao longo dos próximos meses, com a percepção de que o pior ficou para trás, entendemos que o mercado chinês voltará a ser ‘investível’ para os alocadores globais, mas ainda demandará seletividade,” escreveram os analistas.  

Segundo o relatório, o plano quinquenal do governo reforça “teses de longo prazo focados no consumo interno e na indústria de alta intensidade tecnologia”, com menor espaço para empresas de internet e de alta concentração de dados pessoais, usual em índices listados em bolsas ocidentais. 

Setores cíclicos, como consumo e indústria, devem se beneficiar da reabertura.

“Seguimos sem alocação tática direta em China no momento, dados os veículos disponíveis, mas com exposição a tese para os próximos 12 meses via ativos no Brasil,” dizem os analistas. 

O cenário também favorece as commodities porque algumas, como alumínio e aço, já estão sendo negociadas a preços muito abaixo do custo, “o que suporta a visão de que um piso pode estar se formando no próximo ano.”