Os impactos do movimento dos caminhoneiros se alastram pela economia.  Abaixo, tudo o que sabemos até o meio dia de hoje:

Nos aeroportos, a situação mais crítica é em Brasília: 11 voos já haviam sido cancelados até às 11h, incluindo o primeiro voo internacional: um Miami-Brasília da American Airlines.

O aeroporto da capital costuma receber 20 caminhões de QAV (querosene de aviação) por dia. Nos últimos dias, recebeu apenas dez, todos com escolta policial. Hoje ainda não recebeu nenhum.

BH-Airport (Confins) também está operando com contingenciamento e teve quatro voos cancelados pela manhã.

A Plural, que reúne as distribuidoras de combustível, diz que caminhões destinados a Congonhas foram atacados de madrugada, mas agora a situação em São Paulo se normalizou. Além de Congonhas, há fluxo de entrada de QAV em Porto Alegre, Santos Dumont, Viracopos e Curitiba. Galeão e Guarulhos, que recebem o produto por meio de dutos, também estão bem abastecidos. Os demais aeroportos trabalham apenas com o estoque remanescente.

A Gol cancelou os voos Brasília-Teresina e Teresina-Brasília. A Avianca cancelou um voo que parte às 15h30 de João Pessoa para Brasília. A Latam cancelou dez voos e a Azul, 23.

Em São Paulo, a prefeitura suspendeu a coleta seletiva de lixo e pediu aos moradores que mantenham o lixo em casa. A maior cidade do País decretou estado de emergência e vive um dia de feriado, com rodízio suspenso e 40% dos ônibus parados nas garagens.

Nos supermercados, o desabastecimento já começou. Mesmo em grandes redes, como o Pão de Açúcar, já faltam itens de hortifruti e desde ontem os estoques de carnes e aves começaram a ser impactados. O Carrefour limitou a quantidade de produtos que os clientes podem levar em algumas lojas. Para itens de alto giro como os de cesta básica, os estoques duram entre 8 e 10 dias. A empresa diz que seus estoques contribuem para o abastecimento, mas que caso a greve persista, o setor de hortifrúti pode ser impactado. Ambas as redes estão tentando suprir a falta com fornecedores locais.

Mais preocupantes ainda são os impactos na produção de alimentos: num relato apocalíptico, a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) diz que aves e suínos estão sem alimentação há mais de dois dias porque os caminhões de ração não chegam às unidades.

As unidades que ainda tem ração em estoque estão fracionando a alimentação. “O risco de mortandade dos animais é iminente e há risco de canibalização”, diz a entidade em nota na qual pede “intervenção rápida e forte por parte do governo”. Mais de 150 frigoríficos estão parados e 1 bilhão de aves e 20 milhões de suínos podem morrer por falta de alimento.

A indústria começou a parar. Todas as montadoras do Brasil estão paradas porque não tem como escoar a produção nos caminhões-cegonha. De acordo com a Anfavea, o setor gera R$ 250 milhões por dia em impostos.  Até a produção de caminhões – que ironia – está parada. A Randon disse que algumas plantas vão reduzir ou suspender temporariamente as atividades. Com os caminhões parados nas estradas, a Fibria disse que a greve “está impactando a sua produção e o transporte de produtos”. A Suzano também está com produção e escoamento prejudicados, e a Eldorado disse que poderá reduzir o ritmo de produção na fábrica de Três Lagoas (MS) se a greve continuar. 

Ficar doente também está proibido. No sistema de saúde de São Paulo, há combustível apenas para mais três ou quatro dias. A associação que reúne hospitais privados de todo o País fez um apelo para que os caminhoneiros liberem cargas medicinais porque já começa a “detectar uma queda substancial dos estoques e falta iminente de insumo nas instituições de saúde.”

As mortes também estão suspensas: o prefeito de São Paulo disse que o serviço funerário não vai funcionar neste sábado se a falta de combustíveis persistir.

No topo, foto do filme ‘Ensaio sobre a cegueira’, de 2008, baseado em livro homônimo de José Saramago