A Cemig anunciou agora à noite que está “avaliando estruturas” para vender sua participação na Taesa, uma transação que pode levantar cerca de R$ 2,5 bilhões para a estatal mineira, dona de 21,6% da transmissora de energia. 

O CEO Reynaldo Passanezi vai aproveitar o prejuízo contábil gerado pela venda da participação na Light, em janeiro, para reduzir o imposto que a venda da Taesa vai gerar. 

“A Taesa era um quadro de Monet pendurado na parede: você vende quando precisar,” diz um analista do setor. 

Mas não vai ser tão simples assim.  A transação enfrenta múltiplas dificuldades.

O sócio da Cemig na Taesa, a estatal colombiana ISA, tem 14,8% do capital — mas parece improvável que exerça seu direito de preferência.  

A ISA está no meio de um processo para ser vendida à Ecopetróleo, outra estatal colombiana — uma manobra do Ministério da Economia colombiano para injetar dinheiro no caixa do Tesouro. (Algo como se a Petrobras comprasse a Eletrobras…)

Outro problema é a joint venture que a Taesa tem com a Alupar chamada TBE, que tem 13 concessões e quase R$ 918 milhões de receita. O acordo de acionistas da TBE diz que, caso a Cemig saia do controle da Taesa, a Alupar tem o direito de comprar a participação da Taesa na JV.

Essa situação muda o valuation da Taesa.  Se a Alupar exercer o direito de preferência, a Taesa receberá uma montanha de dinheiro. 

“O comprador da participação da Cemig tem que saber se está comprando a Taesa como ela é hoje, ou se está levando 84% da Taesa em termos de receita e os 16% restantes em caixa,” diz um banker do setor. 

Por fim, há o problema do tag along. Qualquer investidor estratégico que compre a participação da Cemig na Taesa vai disparar o direito dos minoritários de vender pelo mesmo preço. 

Para evitar isso, a Cemig poderia fazer um follow-on, vendendo suas ações de forma pulverizada no mercado. Acontece que hoje, o único papel líquido da Taesa são suas units (TAEE11). A Cemig, no entanto, tem apenas ações ON e não conseguiria formar novas units. 

A solução — um pouco mais complicada — seria vender as ONs e tentar criar liquidez naquela classe de ação. 

Já há tratativas para resolver muitas dessas questões, e Reynaldo — que como ex-CEO da ISA Cteep conhece o mercado a fundo — tem vasta experiência no assunto. 

Grandes empresas de energia e fundos internacionais de infraestrutura certamente vão olhar o ativo, provavelmente o melhor do setor de transmissão e que hoje paga mais de 9% de dividend yield.

O Bank of America está assessorando a Cemig.

A Taesa vale R$ 12,4 bilhões na B3. A Cemig vale R$ 20,2 bi.