A CCR venceu hoje o leilão da concessão rodoviária da Rota Sorocabana, um ativo estratégico que vai reduzir a dependência da companhia da Autoban e aumentar o duration do portfólio.
Num leilão decidido no viva-voz, a CCR ofereceu uma outorga de R$ 1,601 bilhão, um ágio de mais de 267.000% em relação ao valor mínimo do edital e R$ 1 milhão a mais do que o segundo colocado, a Ecorodovias.
O leilão — que também recebeu propostas do Pátria Investimentos e da ERP — teve a CCR e a Ecorodovias dando 13 lances cada, até a Ecorodovias abandonar a disputa.
A concessão da Sorocabana contempla 463 quilômetros em 12 rodovias no Estado de São Paulo, entre elas a Castelo Branco e a Raposo Tavares. Parte dessas estradas estavam concedidas desde 2005 para a própria CCR, e venceriam nos próximos anos.
A concessão tem um prazo de duração de 30 anos.
Além da outorga, a CCR terá que fazer um investimento estimado em R$ 8,8 bilhões para a duplicação de trechos, criação de faixas adicionais e para a construção de acessos e de ciclovias, entre outros projetos.
A concessão também prevê a implementação em todas as rodovias do chamado ‘free-flow’, um sistema de cobrança de pedágios automático em que os motoristas não precisam parar o carro.
O CEO Miguel Setas disse ao Brazil Journal que o ativo é muito estratégico porque a CCR já conhece uma grande parte dele.
“Dos 463 quilômetros, 130 são operados hoje pela ViaOeste e esses 130 km representam 80% das receitas totais do projeto,” disse o CEO. “Temos um grau de profundidade maior que nossos concorrentes sobre o ativo, o que nos dá uma vantagem competitiva.”
Setas disse ainda que o projeto fica numa região onde há uma expectativa de crescimento econômico muito relevante. Hoje a projeção da companhia para as rodovias que ela opera é de um crescimento de 4% ao ano. “Nos próximos anos, estimamos que a Rota Sorocabana vai continuar com um crescimento muito favorável.”
A CCR está projetando que o total de receitas da concessão deve ficar de 20% a 25% acima do estudo do Governo.
Já o capex pode ser menor que o projetado no estudo, dependendo da execução das obras. Eliminando as contingências (imprevistos que podem ocorrer na obra), o capex projetado pela CCR já é ‘high single digits’ menor que o do estudo do Governo, disse Setas.
Outro ganho que a empresa espera é no opex, dado que a instalação dos ‘free flows’ deve reduzir “substancialmente” os custos com funcionários.
Setas disse ainda que a concessão vai reduzir a dependência da CCR da Autoban, que hoje responde por 25% do EBITDA da companhia e que vence em 2037, e aumentar em 1,3 ano o duration do portfólio. Segundo ele, a nova concessão pode responder por 5% a 10% do EBITDA.
Para um analista que cobre a empresa, a concessão é positiva para a CCR, e o fato da Ecorodovias ter feito uma oferta muito próxima à da CCR “valida a oferta deles e mostra que o ativo é valioso.”
Além disso, “o projeto deve jogar a alavancagem do grupo para baixo na largada, porque ele já começa com um EBITDA positivo no D+0 e o capex é mais pra frente.”
A CCR disse que vai financiar o projeto 90% com dívida e apenas 10% com equity, um patamar superior ao tipicamente usado nesses projetos (que costumam ser financiados entre 60% e 70% com dívida). “Estamos indo para 90% porque temos um balanço que permite fazer isso,” disse Setas.
Segundo ele, a TIR real alavancada do projeto deve ficar em ‘mid-teens’ — algo próximo de 15%. O guidance que a empresa vinha passando ao mercado era de buscar retornos que ficassem entre 200 e 300 basis points acima do seu custo de capital (próximo de 10%).
Na call com analistas agora há pouco, a companhia disse que vai conseguir financiar a outorga direto na SPE — algo que em algumas concessões não é permitido. Isso vai gerar um benefício tributário já que o resultado da SPE vai ser reduzido pelos juros da dívida, diminuindo o lucro tributável.
Esta foi a primeira concessão de rodovias que a CCR venceu desde 2021, quando ganhou o leilão da Nova Dutra.
Recentemente, a empresa participou de outros leilões — incluindo o da Rota dos Cristais e da BR-040 — mas acabou sendo derrotada por outros players. O próximo grande leilão que deve sair é o da Nova Raposo, que Setas disse estar avaliando.
“Estamos estudando todas as concessões e vamos participar das que entendermos que são mais estratégicas para o grupo.”