A crise no setor imobiliário chinês trouxe o receio de um grande baque para o preço dos metais, com impacto para as mineradoras e siderúrgicas ao redor do mundo — mas não é isso o que está acontecendo.
Apesar da queda na construção civil, outros setores da economia chinesa altamente consumidores de metais continuam crescendo de maneira robusta.
Se o pessimismo em relação à China foi de fato além da conta, isso poderá se revelar uma boa notícia para as ações da Vale – que foram duramente castigadas nos últimos meses, diz o BTG.
No relatório “The Disconnect,” os analistas Leonardo Correa e Caio Greiner dizem que “está na moda” ter uma visão bear da China. Mas a realidade dos números do mercado de commodities mostra uma outra história – e parece estar “desconectada” do pessimismo das manchetes.
Segundo os analistas, os mercados físicos de minério e metais “sugerem um ambiente mais normal e apertado do que a narrativa,” e o relatório quer mostrar “esse descompasso entre o noticiário e a realidade.”
O BTG elenca uma série de fatores que apontam para um mercado mais aquecido.
O preço do minério de ferro, um dos melhores indicadores da saúde na atividade industrial chinesa, tem se mantido acima de US$ 110 a tonelada.
“Quem poderia adivinhar que o minério de ferro permaneceria acima do custo marginal de produção – entre US$ 80 e US$ 100 por tonelada – em meio ao estouro deflacionário no importante mercado de imóveis na China?” indagam os analistas.
A China responde por mais de 70% das importações mundiais de minério de ferro, e seu setor imobiliário é responsável por um terço desse consumo.
Os analistas do BTG dizem que mantiveram conversas com executivos da Vale e a mensagem passada por eles foi de que “as condições econômicas na China continuam normais” e “todo o book de encomendas está completo para os próximos trimestres”.
Segundo Leonardo, “os estoques de aço não estão se formando,” o que sugere uma sustentação no preço do minério à frente.
A produção de aço bruto na China está crescendo 2% desde o início do ano — e em cima de uma base já alta. Este deve ser o quarto ano seguido com produção acima de 1 bilhão de toneladas, sem sinal da correção que vinha sendo aguardada por boa parte do mercado.
Enquanto isso, os estoques de minério nos portos e nas siderúrgicas chinesas estão nos níveis mais baixos em muitos anos.
Para o BTG, os números do mercado chinês indicam que a queda nas ações da Vale não se justifica, e que os preços atuais representam um ponto de entrada atraente.
O banco tem recomendação de compra para a Vale, com preço-alvo de R$ 94 – um upside de 45% em relação ao preço de tela.
Hoje as ações da Vale tiveram um dia positivo, depois do anúncio pelo governo chinês de incentivos para o mercado imobiliário. As ações subiram quase 3% para R$ 65 – ainda distantes dos R$ 98 de janeiro, o pico deste ano.
A construção de prédios residenciais pode estar em baixa, mas outros setores de engenharia permanecem aquecidos.
Segundo a Bloomberg, os investimentos em ferrovias subiram 25% nos primeiros sete meses do ano, as fábricas de máquinas tiveram alta de 15% e as montadoras avançaram 12%. No mesmo período, a construção de imóveis recuou 7%.
“A China tem problemas e os desafios são bem conhecidos, mas tem muito pessimismo nos preços,” disse Leonardo. “Existe folga na atividade para sustentar as exportações brasileiras.”