O BTG Pactual não está totalmente preparado para fazer frente ao esperado aumento da inadimplência das empresas – e o ajuste que terá de fazer deve comprometer seus resultados de 2023.

A análise é do Itaú BBA, onde o time liderado por Pedro Leduc agora projeta um ROE de 19% para o BTG em 2023, inferior ao guidance do banco de um retorno “superior” aos 20,8% de 2022.

Além disso, os analistas reduziram a estimativa de receita e lucro em 3%. Nas novas projeções, o BTG deve lucrar R$ 8,7 bilhões este ano.

Leduc já havia reduzido o BTG de ‘outperform’ para ‘market perform’ em setembro, temendo um maior risco de crédito, e está mantendo essa recomendação.

A situação complicada do mercado de crédito – com menos emissões de dívida, taxas mais altas e resgates em fundos – “deve acelerar o que esperávamos que seria um ciclo normal de inadimplência,” dizem os analistas.

Isso deve piorar os resultados da área de debt capital markets local, que foi responsável por 30% a 40% do resultado do investment banking do BTG em 2022, na estimativa do Itaú. Também deve reduzir as receitas de wealth, já que o BTG tende a receber menos comissões por distribuir esses títulos de crédito.

O Itaú também espera um aumento da inadimplência nos segmentos corporate e PMEs – um cenário para o qual o BTG não estaria totalmente preparado, na opinião do banco.

O BTG tem cerca de 70% de cobertura para créditos de alto risco (E-H), um nível inferior ao dos principais concorrentes e também menor que a média histórica de 90% da própria instituição.

Esse percentual de 70% considera a recuperação de R$ 1,2 bilhão da Americanas, dado que a Justiça autorizou o bloqueio do valor em conta; sem isso, a cobertura seria de 55%.

O Banco Pan, controlado pelo BTG, também vem provisionando pouco há mais de um ano, segundo o time de Leduc. “Isso ajuda o lucro de curto prazo, mas se torna um problema se a atividade econômica não melhorar.” O book de crédito de R$ 40 bilhões do Pan responde por cerca de 20% do book total do BTG, que consolida o Pan para efeitos contábeis e regulatórios.

O Itaú reconhece que o BTG é uma “franquia diversificada, capaz de entregar crescimento e retornos adequados” mesmo em anos difíceis, e acredita que ainda há espaço para ganhos de eficiência – mas acha que os próximos trimestres dificilmente serão um gatilho para o papel e que o valuation está longe de ser uma barganha.

O BTG negocia a 10x lucro e 1,9x book para 2023. O Itaú vê um valor justo de R$ 23 para a ação, contra R$ 29 na projeção anterior.

O papel negocia perto de R$ 20, estável no pregão de hoje.

O preço de tela implica 11x lucro para 2023 e 9,5x para 2024, um valuation abaixo da média histórica mas justificado pela previsão de lucros mais fracos e “elevada incerteza política e macroeconômica.”