A Vibra Energia acaba de exercer uma opção para comprar 50% da Comerc, numa transação que dobra a aposta da companhia no mercado de renováveis e pode gerar sinergias de até R$ 1,4 bilhão em três anos.
A dona dos postos BR vai pagar R$ 3,525 bilhões pela fatia da holding de negócios de energia – um valor parecido com o firmado pela outra metade no acordo de outubro de 2021, quando a empresa tinha R$ 56 milhões de EBITDA. Com isso, a gestora Perfin e o fundador da empresa, Christopher Vlavianos, o Kiko, deixam de ser acionistas.
Com a aquisição, que ainda depende da aprovação do CADE, a Vibra antecipou a call option que tinha pelos 50% – e que poderia ser exercida entre dezembro de 2025 e dezembro de 2027. (Os vendedores também tinha uma put contra a companhia naquele período.)
Segundo o CEO Ernesto Pousada, isso aconteceu porque a empresa enxergou oportunidades de conseguir sinergias de R$ 1,4 bilhão em um período entre dois e três anos.
“O fator financeiro foi um dos mais importantes para essa decisão, mas ficou muito claro que a Comerc se encaixou no nosso pilar estratégico de energia renovável – e trazendo retorno,” Pousada disse ao Brazil Journal. “A empresa já tem um EBITDA anualizado de R$ 1 bilhão em 2024.”
As maiores sinergias virão da redução do custo da dívida da Comerc – que passará a tomar crédito pela própria Vibra – além de reduções de despesas operacionais e administrativas.
“E uma vez com a Comerc integrada, vamos conseguir acelerar o cross sell, especialmente com os nossos clientes B2B,” disse Pousada.
Depois do closing, o CEO da Comerc, André Dorf, será substituído pela vice-presidente de ESG e energia renovável da Vibra, Clarissa Sadock, uma ex-CEO da AES Brasil.
Ao mesmo tempo, Kiko – que vinha ocupando o cargo de chairman da Comerc – continuará na companhia até 2028 como parte de uma transição. (Como o conselho da Comerc será extinto, ele será um senior advisor.)
A transação acontece num momento em que a Vibra tem uma posição de caixa de R$ 8,2 bilhões. Com a compra, a alavancagem da companhia aumentará de 1x para 2,6x, mas Pousada disse que ela voltará a cair nos próximos trimestres com o aumento da geração de caixa de ambos os negócios.
“Não vamos perder o controle sobre a nossa alavancagem e nos comprometemos a manter a política de distribuir 40% do lucro para os acionistas,” disse.
A Comerc nasceu em 2001 como um negócio de gestão de energia. Depois, passou a ter negócios em trading, gestão de gás, eficiência energética, geração distribuída, autoprodução, comercialização e internet das coisas. A empresa hoje faz a gestão de 6% da energia consumida no País.
No primeiro semestre, a empresa fez uma receita líquida de R$ 2 bilhões – praticamente a mesma de um ano atrás – e um prejuízo de R$ 214 milhões no período.
A Comerc possui nove parques solares – com capacidade de 1,5 GWp –, participações em três parques eólicos, além de fazer a gestão de 4,5 mil unidades consumidoras. A empresa também tem 86 usinas em geração distribuída solar, somando 284 MWp em operação.
Recentemente, a Comerc fechou uma parceria comercial com o Itaú para crescer no mercado livre de energia – que a empresa espera se tornar uma nova fronteira de crescimento depois da abertura recente do mercado de média tensão.
Apesar do alto investimento em renováveis, Pousada disse que a Vibra continua focada em crescer com rentabilidade em seu core business de combustíveis fósseis, o que envolve os negócios de postos e lubrificantes; os planos serão divulgados ao mercado no Investor Day na próxima semana.
“O nosso foco é oferecer ao cliente o que ele quiser: energia renovável, gasolina, etanol ou diesel,” disse.
A empresa negocia a 9x o lucro para os próximos 12 meses. A ação da Vibra sobe 48% nos últimos 12 meses. A empresa vale R$ 29 bilhões na B3.