David Neeleman, que como fundador de cinco companhias aéreas já atravessou os atentados de 11 de setembro e a crise global de 2008, vendeu metade de sua participação na Azul no mês passado, quando a crise do coronavírus já massacrava a empresa que ele controla.
Segundo um formulário submetido à CVM ontem à tarde, depois do fechamento do mercado, Neeleman vendeu 9,3 milhões de PNs, reduzindo seu total de PNs de 11,4 milhões para 2,11 milhões.
As vendas, entre os dias 12 e 18 de março, foram feitas pela corretora do Citigroup a um preço médio ponderado de R$ 16,69, e levantaram R$ 155,5 milhões.
Neeleman começou a vender quando a ação da Azul já havia caído 50% do nível de R$ 60 em que negociava antes do estouro da crise.
Sua primeira venda, tímida, foi a R$ 20,29. A última, a R$ 10,60.
Ontem à noite, gestores que acompanham a Azul diziam haver três explicações possíveis para a venda: ou Neeleman acredita que a empresa não vai sobreviver, ou teme ser diluído no pacote de ajuda do BNDES, ou ainda pode ter tido problema de liquidez na pessoa física.
Mas “no mínimo, isso aqui merecia um fato relevante por parte da empresa,” um gestor disse ao Brazil Journal.
Por volta de 9 hs desta terça, a Azul disse que Neeleman havia feito um empréstimo pessoal em 2019 no valor de US$ 30 milhões dando como garantia parte de suas ações, “dado que ele não tinha intenção de vender suas ações da Azul por acreditar em seu potencial.”
Neeleman controla a Azul por meio de ações ON, as únicas com direito a voto, e que continuam em seu poder.
Neeleman detém 622 milhões de ações ON na empresa. Como, em termos de poder econômico, cada PN vale 75 ONs, isso significa que Neeleman detém 8 milhões de PNs equivalentes (622/75) na forma de ONs.
Estas, somadas às 11,4 milhões de PNs originais, perfaziam 19 milhões do que a companhia chama de ‘ações preferenciais ajustadas’.
Depois de vender as 9,3 milhões de PNs, a participação total de Neeleman na companhia caiu de 5,8% para 3,05% do capital.
O segundo maior acionista da Azul é a família Caprioli, que controlava a TRIP, vendida à Azul em maio de 2012. Ao que consta, os ex-acionistas da Trip não venderam nada.
As vendas aconteceram pouco antes da Azul começar a negociar acordos coletivos de redução de salários e jornadas com seus funcionários. Uma primeira proposta foi rejeitada no final da semana passada.
A empresa também está renegociando os contratos de leasing com os seus lessores, mas ainda não cogitou cancelar os subleasings feitos no mês passado, que em sua maioria envolvem a Breeze Group, a nova empresa de aviação de Neeleman nos EUA.
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