O Grupo Casas Bahia está prestes a anunciar que entrou com um pedido de recuperação extrajudicial, fontes a par do assunto disseram ao Brazil Journal.
Este instrumento — mais simples do que a RJ tradicional — vai permitir à varejista alongar suas dívidas e reduzir seus custos financeiros.
Segundo as fontes, o pedido já nasce aprovado, mitigando praticamente todos os riscos envolvidos nesse tipo de processo.
A Casas Bahia assinou hoje à tarde um contrato com seus dois principais credores — o Bradesco e o Banco do Brasil, que têm juntos 66% das dívidas que vão fazer parte da RE — estabelecendo todos os termos da operação.
Para a aprovação, seria preciso um quórum mínimo de 50% mais 1.
A recuperação extrajudicial vai envolver apenas as quatro debêntures que a Casas Bahia tem no mercado, além das CCBs que ela tem com o Bradesco e BB.
No total, essas dívidas somam R$ 4,1 bilhões, com os CCBs representando R$ 2,2 bi do total. (O Bradesco e BB também têm R$ 500 milhões em debêntures da Casas Bahia por meio de suas assets, chegando aos 66%).
Além dessas dívidas, a companhia tem outros R$ 5 bi em operações de ‘risco-sacado’ e de CDCIs (usados para financiar seu crediário).
Diferente de uma recuperação judicial (RJ), a RE tem um escopo limitado, não impactando as demais dívidas da companhia, que continuarão sendo honradas.
A RE também não tem nenhum impacto na relação da companhia com seus fornecedores e clientes, e tem uma duração bem mais curta. A expectativa é que ela seja concluída em 1 ou 2 meses.
Uma fonte próxima à companhia disse que a operação vai dar um alívio de caixa muito relevante para a Casas Bahia — já que vai aumentar a duration da dívida e reduzir de forma relevante seu custo financeiro.
O prazo médio dessas dívidas vai passar de 22 meses para 72 meses, com o custo caindo em 1,5 ponto percentual.
A Casas Bahia tem R$ 4,8 bilhões (entre principal e juros) para pagar nos próximos quatro anos — com R$ 1,5 bi vencendo este ano, R$ 800 milhões no ano que vem, R$ 900 milhões em 2026 e R$ 1,5 bi em 2027.
Depois da RE, o primeiro desembolso da companhia será apenas em 2026, quando ela terá que pegar R$ 250 milhões entre principal e juros. Outros R$ 250 milhões vencem em 2027, R$ 400 milhões em 2028, R$ 1,1 bi em 2029 e R$ 3,6 bi em 2030.
Já o custo médio das dívidas é hoje de CDI + 2,75%. Depois da RE, ela terá apenas uma debênture com duas séries: uma com um custo de CDI + 1,5% e a outra, CDI + 1%.
A companhia calcula que essa queda nas taxas vai gerar uma economia em juros de cerca de R$ 400 milhões — R$ 60 milhões por ano.
Para tornar a operação mais atrativa para os credores, parte da segunda série (63% do total) poderá ser convertida em equity no período de 18 a 36 meses depois da conclusão da operação.
Nesse período, os credores terão, ao final de cada trimestre, a opção de converter a dívida a um desconto de 20% do valor médio transacionado nos 90 dias anteriores.
Para ser elegível para a conversão, no entanto, os credores terão que manter as condições atuais das outras linhas que tem com a empresa (o risco sacado e os CDCIs, no caso dos bancos) ou oferecer dinheiro novo para a companhia.
Segundo uma das fontes, mesmo sem a RE, a Casas Bahia teria recursos para fazer frente às suas obrigações dos próximos anos. “Mas seria um cenário em que a companhia ia ter que pagar as dívidas com caixa próprio e ficar numa situação em que não teria flexibilidade para acordos com fornecedores, negociações. Ia impactar muito o capital de giro,” disse ela.
“Além disso, eles iam continuar dependentes dos dois bancos [Bradesco e BB] porque não ia ter espaço para a entrada de novos credores. A RE reduz a dependência da companhia com esses dois bancos no longo prazo, o que para os bancos também é bom.”
O anúncio da RE vem num momento em que a Casas Bahia está executando um amplo plano de reestruturação, que envolve diversas mudanças no operacional e na estrutura de capital.
A companhia já executou cerca de 35% desse plano e pretende concluir 100% até o final deste ano.
O management tem dito ao mercado que a expectativa é que os resultados das mudanças já implementadas já comecem a aparecer no resultado do primeiro trimestre de 2024 da varejista, que será divulgado dia 8 de maio.