A Ant Financial, o super app chinês ligado ao Alibaba, acaba de comprar 5% da Dotz dias antes do IPO da carteira digital, e tem uma opção para comprar mais 10% dos controladores em até dois anos. 

As informações foram publicadas pela empresa no prospecto do IPO, atualizado ontem à noite no site da CVM. 

11423 138d1f0b 7df1 b30a 3a24 09cace4cea6fA transação é uma vitória espetacular para os irmãos Alexandre e Roberto Chade, que fundaram e controlam a Dotz. Segundo pessoas próximas à companhia, a família Chade cortejava a Ant Financial há anos.  

O investimento da Ant deve aumentar substancialmente o interesse num IPO que estava tendo uma recepção morna em meio a um mercado seletivo. 

A Ant Financial — a maior fintech do mundo no tema da inclusão financeira — está comprando a participação diretamente dos irmãos Chade e indicará um membro do conselho de administração.

Mais importante ainda: o representante da Ant vai co-presidir o comitê de estratégia da companhia, segundo o prospecto.  

O envolvimento da Ant injeta opcionalidades relevantes na tese de investimento da Dotz, na medida em que a companhia chinesa passa a ter um cavalo na corrida das fintechs brasileiras. (Curiosamente, a Ant investiu US$ 100 milhões no IPO da Stone, mas nunca teve participação na gestão da empresa.) 

A Dotz — uma empresa de fidelidade tradicional que está se transformando em fintech — quer levantar R$ 815 milhões no IPO. A faixa indicativa de preço vai de R$ 16,20 a R$ 21,40 por ação.

Cerca de 88% da oferta será primária e, no meio da faixa indicativa, a Dotz estreará na Bolsa valendo R$ 1,9 bilhão. 

A Dotz vai usar parte dos recursos do IPO para resgatar uma debênture conversível que está nas mãos do Farallon, mas o fundo americano vai colocar dinheiro novo na forma de equity. O Farallon e a VELT Partners serão âncoras do IPO e se comprometeram a investir R$ 50 milhões e R$ 100 milhões, respectivamente, até o preço máximo de R$ 18,8 por ação, segundo o prospecto.

Fundada no início dos anos 2000, a Dotz foi uma das pioneiras no Brasil no modelo de programas de fidelidade de coalizão, no qual o usuário acumula e troca pontos com várias empresas parceiras. 

A empresa tem 48 milhões de clientes cadastrados, dos quais 10 milhões interagem com ela pelo menos uma vez por ano e 5 milhões pelo menos uma vez por mês. 

Usando sua parceria de 10 anos com o Banco do Brasil, com quem tem um cartão de crédito co-branded, a Dotz se tornou um dos players com mais acesso a dados de consumo da classe C no Brasil — e está construindo um business de fintech em cima de seu negócio de fidelidade.

Em vez de apenas permitir o resgate de pontos na forma de torradeiras e chuveiros elétricos, a Dotz permite que o cliente resgate seu prêmio em dinheiro, estimulando o uso de sua carteira digital. O modelo soluciona o principal desafio das wallets: fazer o consumidor colocar dinheiro lá. 

“Um wallet não é um business que ganha dinheiro por si só,” diz um investidor. “Você quer gerar tráfego para processar pagamentos e ganhar fees.” 

Em cima deste tráfego, a companhia criou um marketplace de venda de produtos e está criando um data lake poderoso. Quando um cliente gasta num bar, restaurante ou supermercado, o Google não vê, mas a Dotz sim. A companhia agora está começando a vender esses dados para bancos, que usam a informação para aperfeiçoar sua análise de crédito.

Os coordenadores da oferta são BTG Pactual (líder), Itaú BBA, Credit Suisse e UBS BB.