O que está ruim sempre pode piorar.

Enquanto o índice Bovespa bate novo recorde nominal, as ações da Braskem caem quase 3% na B3 nesta terça-feira com um comentário bearish do Santander sobre o terceiro tri da companhia.

Numa nota que circulou entre clientes do banco, o analista Gustavo Allevato, chefe da cobertura de commodities, disse que o 3Q deve desapontar novamente, com a companhia postando um EBITDA de US$ 360 milhões comparado à sua expectativa anterior de US$ 420 milhões.

A Braskem reporta o resultado dia 6 de novembro.

No Safra, o analista Kaíque Vasconcellos cortou sua estimativa de EBITDA para 2020 em 17,5% e agora tem um preço-alvo de R$ 34,50 para o final de 2020.

O terceiro trimestre é tipicamente o mais forte para a indústria petroquímica porque é quando a indústria recebe as encomendas para produtos que serão vendidos no Natal.  Mas desta vez, a demanda fraca e os chamados spreads petroquímicos apertados estão anulando o efeito da sazonalidade.
 
O spread — a diferença de preços dos petroquímicos sobre a nafta — está massacrando os resultados em todos os mercados operados pela Braskem: Brasil, EUA, Europa e México. Segundo o Safra, o spread está sendo negociado a um desconto de 58% em relação à média histórica.
 
Outro fator pesando no papel foi o anúncio, feito ontem à noite pela companhia, de que a gestora Alaska reduziu sua participação na empresa. Ainda que a redução seja pequena, a Alaska era um dos raros investidores que estavam comprando o papel nos últimos meses.

“Como não deve haver melhora operacional nos próximos meses e nenhuma resolução para o problema societário, é possível que o mercado esteja jogando a toalha,” um analista disse ao Brazil Journal.

Em 18 de setembro, segundo comunicado da Braskem, a Alaska atingiu uma posição equivalente a 5,15% das ações PNA da companhia (BRKM5), além de 3 milhões de contratos de derivativos referenciados no papel e 5.000 aluguéis das ações ordinárias (BRKM3).

Mas menos de um mês depois, em 10 de outubro, a Alaska já havia cortado sua posição em BRKM5 para 4,86%. Um comunicado da Braskem diz que a gestora manteve os derivativos, mas não faz mais menção à posição em BRKM3.

A Braskem também disse ontem que seu ADR voltará a ser negociado na Bolsa de Nova York nesta quinta-feira, depois que um atraso da companhia em enviar documentos levou à sua suspensão.  Ainda que a normalização da listagem seja bem vinda, é impossível estimar se terá impacto no preço da ação.

Finalmente, o setor petroquímico em geral (e a Braskem em particular) tem mais um motivo para se preocupar.

 
Segundo o repórter Daniel Rittner, do Valor, o Governo prepara um ‘choque’ nas tarifas de importação de diversos setores industriais para os próximos anos.  Isso deve aumentar a concorrência para os players de petroquímica, mas até agora não se sabe se o Governo pretende redesenhar a política de preço de seu insumo mais básico — a nafta vendida pela Petrobras, que continua sendo a mais cara do mundo.