O Bradesco começou a entregar a melhora de resultado prometida pelo CEO Marcelo Noronha.

O banco reportou um lucro de R$ 4,7 bilhões no segundo tri, uma alta de 4,4% sobre o mesmo período de 2023, superando as projeções dos analistas em razão de um novo – e mais rentável – crescimento do crédito.

A carteira de crédito aumentou 5% na comparação anual e, ao contrário do que havia acontecido no primeiro tri, o banco conseguiu expandir linhas mais lucrativas como as de pessoas físicas e PMEs.

Marcelo Noronha

De janeiro a março, o Bradesco só havia crescido em segmentos de menor spread, o que levantou dúvidas sobre sua capacidade de entregar o top line.

A margem com clientes – que mostra a capacidade de gerar receitas com crédito e intermediação financeira – voltou a aumentar na comparação trimestral depois de seis trimestres de queda.

O indicador ainda está em queda de 8,4% frente ao mesmo período de 2023, mas o mercado está vendo a virada trimestral como um importante ponto de inflexão.

O Bradesco passou a publicar também sua margem com clientes líquida de provisões. Esta métrica cresceu 25,7% no segundo tri frente ao mesmo período do ano passado.

“O Bradesco ligou sua máquina de crédito novamente”, disse um analista do sellside.

A inadimplência voltou a diminuir, caindo 1,4 ponto para 4,3% na comparação ano contra ano.

“Ouvimos que não íamos conseguir reverter a trajetória de inadimplência, depois que não tínhamos tração para crescer. Estamos provando que conseguimos fazer tudo isso e mais,” disse Noronha.

“Temos modelos de crédito melhores, mas só isso não basta. É preciso ter tração comercial e mostramos que temos isso,” completou o executivo. Ele ressaltou, porém, que o crescimento é “step by step, sem aceleração maior do que deveria.”

Segundo o CEO, a aprovação de empréstimos aumentou cerca de 25% em relação a junho de 2023, mas ainda está 19% abaixo do patamar de 2019, quando o banco aumentou demais a carteira – e pagou caro por isso depois.

Para Eduardo Rosman, que cobre o setor financeiro no BTG Pactual, “ainda que as expectativas não sejam altas, vemos [o resultado] como uma conquista significativa, especialmente para uma ação que cai mais de 20% no ano e negocia no low histórico de 0,8x book.”

Na abertura da B3, num dia de caos nos mercados globais, a ação do Bradesco subia 2%, enquanto o Ibovespa caía 1,5%.

A margem com o mercado teve uma queda de quase 50% no segundo tri em relação ao tri anterior, algo que era esperado em razão da piora das condições de mercado.

Mas a piora afetou pouco o capital do banco, necessário para sustentar o crescimento prometido pelo management.

Como ponto de atenção, o BTG acredita que o Bradesco terá dificuldade de cumprir algumas linhas do guidance anual, especialmente a margem financeira, que engloba as margens com clientes e mercado – a previsão é de alta entre 3% e 7% neste ano.

O Bradesco também mudou o modelo de remuneração variável dos executivos para mantê-los sob pressão. O mix de metas da liderança agora está mais atrelado ao resultado de suas próprias áreas e menos dependente dos números gerais do banco.

“O histórico das pessoas importa, mas a entrega atual é igualmente importante,” disse Noronha.

Além disso, o Bradesco continuou cortando custos. Fechou 411 postos de atendimento no segundo tri, mas fez contratações em tecnologia e na Cielo.

As despesas com pessoal e administrativas aumentaram 5,5% ano contra ano, e com isso ficou na parte inferior do guidance. As despesas totais cresceram 10,6%, mas em boa parte porque a base de comparação estava desfavorável, dado que o banco havia ganhado processos na área cível um ano atrás.

A seguradora – sempre um pilar de rentabilidade para o grupo – voltou a ter um desempenho positivo, com ROE de 22,1%. Houve queda no resultado operacional e no lucro frente ao mesmo período de 2023, mas isso também se deve à alta base de comparação, já que o ano passado foi forte, segundo um analista.

O resultado operacional da seguradora foi de R$ 4,6 bilhões, 4,1% menor que o do segundo tri de 2023, mas 16,2% maior que o do tri anterior. O lucro atingiu R$ 2,2 bilhões, com queda de 7,4% na comparação anual e alta de 12,7% na trimestral.

Ivan Gontijo, o CEO da Bradesco Seguros, disse que o aumento da base de clientes, a queda da sinistralidade e o lançamento de novos produtos devem garantir o cumprimento do guidance do ano, que prevê um resultado de 4% a 8% maior.