Os resultados do Bradesco no primeiro trimestre ficaram, em linhas gerais, dentro do que se esperava do banco no início de seu processo de reestruturação.

O problema continua sendo entregar o top line.

Depois de dois trimestres de queda, o banco voltou a crescer em crédito: a expansão foi de 1,4% em relação ao quarto tri e de 1,2% frente a janeiro a março de 2023.

Mas cresceu de forma conservadora, nas linhas com menor spread. Isso levou à queda da margem com clientes, que foi de 5,9% em relação ao quarto tri e de 14,4% na comparação anual.

“O banco ainda não chegou a um ponto de inflexão nessa linha. É um número fraco,” diz um analista do sell side.

Marcelo Noronha

Na call de hoje cedo, o CEO Marcelo Noronha admitiu que este é o item mais desafiador do resultado, mas disse que primeiro se entrega a expansão do crédito, e depois a margem, emprestando mais em linhas de maior risco.

“Posso garantir que a gente vai para cima com o crescimento da carteira de crédito”, disse Noronha. “A nossa produção está mais acelerada, com apetite a risco sólido e modelos melhores.”

Segundo o CFO Cassiano Scarpelli, o banco vai atingir o guidance ao longo do ano: a projeção é de um crescimento de 3% a 7% da margem financeira total. No primeiro tri, essa margem caiu 9%.

O lucro chegou a R$ 4,2 bilhões, um aumento expressivo de 46% frente ao trimestre anterior, mas uma baixa de 1,6% na comparação anual. Com isso, ficou acima da expectativa do mercado, que projetava R$ 3,9 bilhões, segundo a Refinitiv. O ROE aumentou levemente para 10,2%.

“Mas olhar o lucro isoladamente importa pouco agora. O que importa é entender a dinâmica operacional do Bradesco”, diz esse analista. “Está ocorrendo uma melhora, mas lenta.”

A inadimplência segue em baixa – caiu de 5,1% em dezembro para 4,8% em março – e as provisões diminuíram de forma significativa: 26% em relação ao quarto tri e 18% frente ao mesmo período de 2023.

O banco também começou a entregar os cortes de despesa prometidos por Noronha como parte do plano estratégico anunciado em fevereiro, dois meses e meio depois de ele assumir o cargo.

As despesas administrativas caíram 8,2% em relação ao quarto trimestre e cresceram apenas 1,2% na comparação anual, abaixo da inflação. Os gastos com pessoal diminuíram 2,3% tri a tri, mas aumentaram 5,6% frente ao primeiro tri de 2023 em razão do reajuste salarial feito em acordo coletivo.

O banco fechou agências e reduziu o quadro em 588 funcionários no trimestre, apesar de ter contratado especialistas em investimentos e tecnologia.

As receitas com serviços caíram 1,8% frente ao quarto tri e cresceram 1,3%, abaixo da inflação, em relação ao mesmo período de 2023.

Na comparação anual, o banco perdeu receitas em conta corrente, fruto da maior concorrência. No tri a tri, perdeu com cartões (movimento sazonal), administração de fundos, mercado de capitais e assessoria financeira. As receitas com consórcios aumentaram nas duas comparações.

Para Noronha, essa alta de 1,3% na receita de serviços, apesar de inferior à inflação, foi positiva. “Em cartões, vamos crescer a partir de agora, com o Dia das Mães, dos Pais. O primeiro trimestre é mais parado. E o mercado de capitais em renda variável praticamente não existiu. Se já conseguimos crescer 1,3% com tudo isso, devemos apresentar números mais positivos à frente.”

O executivo disse ainda que o banco criou pacotes de tarifas “mais inteligentes”, e com isso conseguiu aumentar as receitas em conta corrente frente ao quarto tri.

A seguradora fez um ROE de 19,8%, uma alta de 1,6 ponto percentual frente ao primeiro tri. O lucro líquido chegou a R$ 2 bilhões, alta de 10% em relação ao mesmo período de 2023, mas queda de 21,6% no tri a tri.