A Petrobras está prestes a tomar uma decisão que vai impactar diretamente a oferta que a GP Investimentos está fazendo pela BR Properties, de 10 reais por ação.

Como parte de seu esforço para cortar custos, a Petrobras pretende desocupar a torre Ventura, no Rio de Janeiro, que pertence à BR Properties. O contrato de locação venceu em dezembro, e a BR Properties — dona de uma enorme carteira de prédios comerciais — está negociando para manter o inquilino num dos momentos mais dramáticos para o mercado corporativo de que se tem memória.

Torres Ventura Torres Ventura

Aninhado no coração do Centro do Rio, o Ventura é um complexo de duas torres de escritórios ‘triple-A’ na Av. República do Chile, 330, a uma curta caminhada da imponente sede da Petrobras, daquele outro esteio do capital nacional — o BNDES — e da Catedral Metropolitana.

A Petrobras aluga uma das duas torres do Ventura e um quarto da segunda torre, a um custo estimado de 6 milhões de reais por mês. Depois que a BR Properties vendeu uma série de ativos , o aluguel pago pela Petrobras no Ventura passou a representar cerca de 20% da receita da BR Properties.

O Ventura “era adequado para o tamanho da antiga BR Properties, mas depois que eles venderam várias propriedades, ficaram muito concentrados; são 90.000 metros quadrados ali,” diz uma fonte do mercado imobiliário. “Mas essa é, de longe, a jóia da coroa, o melhor edifício do portfólio que restou.”

Uma fonte da Petrobras disse à coluna que a decisão de desocupar o imóvel já foi tomada, mas uma fonte da BR Properties diz que a empresa fará “de tudo” para manter o inquilino.

Nas contas de um analista, a saída da Petrobras causaria uma perda de 80 milhões de reais por ano à BR Properties, entre perda de receita e custos de vacância.

Se a vacância se confirmar, a GP Investimentos pode ser obrigada a rever o preço que pretende ofertar pela BR Properties (atualmente, 10 reais por ação), ou por decisão própria ou por pressão do investidor que está bancando a oferta, o fundo soberano Abu Dhabi Investment Authority (ADIA).

Ontem, a GP confirmou em carta à CVM que pretende ir adiante com a oferta assim que o ADIA assinar o cheque. Apesar do interesse manifesto da GP, a ação da BR Properties ainda negocia cerca de 20% abaixo do preço da oferta, refletindo a incerteza do mercado quanto à realização da oferta e seu timing.

O downsizing imobiliário da Petrobras já começou.

A estatal já avisou aos proprietários do Edifício Torre Almirante — outro prédio que a empresa ocupa no Centro do Rio — que vai entregar as chaves. O contrato de aluguel era de 6 milhões de reais por mês — depois de uma redução de 12,7% negociada pela Petrobras em 2014. Os donos do Torre Almirante são o BC Fund, com 60%, e o Fundo de Investimento Imobiliário Torre Almirante, com 40%. A cota deste fundo, listada na Bovespa sob o código ALMI11B, despencou cerca de 35% desde que a notícia da rescisão saiu, em 29 de dezembro. Assim como a BR Properties, os proprietários do Almirante ainda estão tentando reverter a situação .

A Petrobras tem cerca de 44 mil funcionários trabalhando em sua área administrativa, e tem dito que pretende cortar 30% destes cargos — ou seja, cerca de 12 mil funcionários. Assumindo que cada funcionário ocupe, em média, 8 metros quadrados, isso significa que a empresa terá que devolver cerca de 96 mil metros quadrados.

Hoje, a Petrobras ocupa mais de 250 mil metros quadrados no Rio. Essa metragem está dividida assim: 95 mil metros quadrados no Edifício Senado, 65 mil metros quadrados na sede da empresa (que tem hoje dois andares vagos), 55 mil metros quadrados no Ventura e 40 mil metros no Almirante. Somando os dois últimos, a Petrobras estaria devolvendo 95 mil metros quadrados, a mesma metragem estimada para o corte de 30% na área administrativa.