Numa entrevista ao Jornal da Band ontem à noite, Jair Bolsonaro questionou as margens de lucro da Petrobrás e disse que ‘de jeito nenhum’ vai privatizar a geração de energia do País, que, segundo ele, não pode cair ‘na mão do chinês’.
 
Ao falar sobre os planos de privatização da Eletrobras feitos pelo atual Governo, o candidato mostrou que considera a geração de energia uma questão estratégica:
 
“Para mim, energia elérica a gente não vai mexer.  Eu até converso com o Paulo Guedes.  O que que dá errado lá?   É a indicação política, que leva à ineficiência e à corrupção.  Nós vamos indicar as pessoas para compor isso.  …  Quando você vai privatizar, você vai privatizar para qualquer capital do mundo? A China não está comprando no Brasil, ela está comprando o Brasil!  Você vai deixar a nossa energia na mão do chinês?” 
Em seguida, ilustrou o assunto com uma analogia reminiscente dos discursos de Lula:
“É a mesma coisa. Suponha que você tenha um galinheiro no fundo da tua casa e viva dele. Você vende todo dia ovos e algumas galinhas. Quando você vende aquilo e privatiza, você não vai ter a garantia no final de semana de comer um ovo cozido. Nós vamos deixar a energia na mão de terceiros?”

O repórter perguntou:  “Mas nada? Nem a distribuição?”

 
Bolsonaro: “Você pode conversar sobre distribuição, até porque…”
 
Repórter:  “Geração não?” 
 
Bolsonaro: “Geração não!  De jeito nenhum!” 
 
Quando o tema mudou para Petrobras, Bolsonaro disse que “o miolo” da estatal tem que ser preservado, e se declarou a favor da privatização da área de refino.
 
Mas, desafiando o que se espera de um militar forjado no pensamento econômico da era Geisel, Bolsonaro não pareceu apegado à ideia de que o pré-sal seja estratégico.
 
“Nós não temos recursos para explorar o pré-sal.  Arrebentaram com a Petrobras. E daqui a 20, 25, 30 anos, a energia será outra. …. Temos tecnologia mas não temos recursos para explorar,” disse. 
 
Em seguida, retomando o tema que esteve na base da greve dos caminhoneiros, que apoiou energicamente, Bolsonaro criticou a política de preços da estatal.
 
“Chega para mim a informação: cada litro refinado de diesel custa 90 centavos.  Não sei se é verdade. E depois a Petrobras bota 150% de margem de lucro e revende.  Vai para o Brasil.  Aí você bota em média 30% de ICMS. Pô, ninguém aguenta.  Você tem que diminuir a carga tributária.” 
 
A conclusão do candidato: 
 
“Você não pode ter uma política predatória no preço combustível para salvar a Petrobras e matar a economia brasileira. Qualquer coisa no combustível reflete no preço da mercadoria que tá lá na ponta. Ninguém quer a Petrobras com prejuízo, mas também não pode ser uma empresa que usa do monopólio para tirar o lucro que bem entende. Repito: faltam-me dados para uma melhor análise sobre isso.  Uma vez sendo presidente, a gente vai ter os dados.” 
 
O conjunto da entrevista não deixa claro o que vai sair dali:  uma Petrobras ainda estatal porém reduzida e concorrendo em pé de igualdade com outros players, ou simplesmente uma estatal cujos preços serão definidos no Planalto em vez da Avenida Chile, como foi no Governo Dilma.
 
Na entrevista, Bolsonaro continuou se associando às ideias de um Estado menor e um corte de impostos “para quem ganha até cinco salários mínimos e para empresários”, medidas que segundo ele serão tomadas ‘sem canetaço’. Disse também que Paulo Guedes é quem vai nomear o presidente do Banco Central.
 
De qualquer forma, as declarações sobre estatais devem temperar a euforia do mercado, que tem progressivamente comprado a ideia de um governo privatista — até por absoluta falta de opção no outro lado.  “Será que eles vão acabar com a lua de mel antes mesmo do casamento ter sido consumado?,” disse um gestor que assistiu à entrevista.

Ao falar da reforma da previdência, Bolsonaro disse que a reforma tem que ser feita “com calma, devagar”, e sugeriu aumentar a idade mínima em um ano, por ano.

“No serviço público, o homem se aposenta hoje com 60 anos de idade.  Vamos botar 61.  Você aprova. Se você quiser já botar 65, mesmo que seja lá na frente, você não aprova. Porque a esquerda vai fazer uma campanha enorme dizendo que, no Piauí, onde a expectativa de vida é 69 anos de idade, dizer que você vai se aposentar no cemetério. Então se você fizer com calma, devagar, você chega lá. Não é como muitos querem.” 

A íntegra da entrevista está aqui.

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