NOVA YORK – Os juros mais altos nos Estados Unidos têm atraído investidores para os títulos da dívida americana. Mas, para a BlackRock, este também é um bom momento para investir em bonds de mercados emergentes.

Pedro Goldberg

A perspectiva de crescimento global para além dos EUA e de corte dos juros americanos tende a beneficiar esses mercados, diz Pablo Goldberg, gestor e head de pesquisa em renda fixa em países emergentes da BlackRock.

Só que está difícil convencer os investidores. “Dado esse ambiente macro favorável, deveria haver um maior fluxo de recursos para os emergentes,” Pablo disse ao Brazil Journal.

O problema é a concorrência com a renda fixa americana e também com o mercado tech, que drena os recursos de quem quer tomar mais risco.

Goldberg acredita que quem insistir nos emergentes pode conseguir bons retornos, especialmente quando os juros americanos começarem a cair – mas não necessariamente no Brasil.

Há muita incerteza sobre quando os EUA vão cortar os juros e sobre as perspectivas para a economia global. Ainda assim, no seu último relatório, você diz que este é um bom momento para investir em bonds de mercados emergentes. Por quê?

O ambiente macro global é favorável à tomada de riscos. A economia mundial tem sido resiliente e deve crescer de forma mais dispersa a partir de agora.

No ano passado, a expansão foi liderada pelos Estados Unidos. Agora, os EUA estão desacelerando – o que não deve ser confundido com um início de recessão –, mas a Europa está acelerando e a China se recupera.

Ou seja, a expansão que demandava juros mais altos está perdendo força, e há mais crescimento onde existe espaço inflacionário para isso acontecer.

Além disso, o Fed deve começar a cortar os juros. Na última reunião do FOMC, Powell foi muito claro ao dizer que as condições financeiras são suficientemente restritivas.

A discussão não é se a queda vai ocorrer, mas quando – o que, claro, depende dos próximos dados sobre inflação.

Mas quando importa, certo? Se demorar demais, os ativos de mercados emergentes podem continuar sofrendo.

Acreditamos que o Fed deve cortar os juros uma ou duas vezes neste ano. Se isso não acontecer, é porque a economia continua relativamente forte, o que pressiona o câmbio e os juros nos mercados emergentes, mas pode beneficiar os papéis ligados a crédito, que são amparados por mais crescimento.

Haverá uma erosão do carry, mas nada desastroso. Isso considerando que as taxas comecem a cair em 2025: um delay de seis meses ancora as expectativas.

Se houver aumento das taxas, o jogo muda completamente. É um risco que não podemos ignorar, mas é pouco provável.

Com os juros altos, a renda fixa nos países desenvolvidos se tornou concorrência para a de mercados emergentes. Os investidores já estão dispostos a arriscar?

Dado esse ambiente macro favorável, deveria haver um maior fluxo de recursos para os mercados emergentes, e não vemos isso.

Isso se deve em parte ao fato de os juros nos Estados Unidos estarem pagando bem. Além disso, quem quer arriscar encontra oportunidades em setores ligados à tecnologia – o que também se tornou uma concorrência.

Quando os juros começarem a cair nos Estados Unidos, e o crescimento continuar ocorrendo fora do mercado americano, acredito que os investidores vão buscar outras oportunidades.

Onde estão as oportunidades?

Houve um rally importante em bonds de mercados emergentes no último ano e meio, então os valuations estão apertados.

Dito isso, cortes dos juros americanos podem elevar os retornos. Vemos oportunidades em títulos de crédito em moeda forte, porque eles também se beneficiam de um ambiente de maior crescimento global.

E quais países emergentes são mais atrativos agora?

Há diferentes grupos, com diferentes histórias. Um deles é o de economias em que houve importantes transformações macro e saíram da geladeira: Argentina, Paquistão, Quênia, Equador, Turquia, Nigéria e Egito.

Créditos que eram distressed ou quase isso melhoraram significativamente. Ainda há oportunidades ali, mas muito já foi precificado. Agora não basta anunciar boas políticas, é preciso entregar resultados.

Outro grupo é o de países que produzem minérios bastante demandados atualmente, como cobre, cobalto, lítio. É o caso de África do Sul, Chile, Peru, Zâmbia.

No Oriente Médio, países que não querem depender tanto do petróleo e buscam ter uma economia mais diversificada também são interessantes. Omã é um exemplo.

Na outra ponta, há mercados estabelecidos em crédito, mas que estão sendo reavaliados. É o caso de Brasil, Colômbia e México. Os investidores começam a questionar a direção que essas economias estão tomando.

Como assim?

Os investidores estão avaliando a resiliência institucional desses países. Casas como a BlackRock não investem por poucos meses, mas por anos, muitas vezes por mais tempo que um governo pode durar.

Para fazer isso, precisam confiar que existe Banco Central independente, Estado de Direito, prudência fiscal, conversibilidade de capitais.

Há muito ruído sobre as metas fiscais no Brasil, por exemplo. Se mudar, significa mais dívida, que compete com a dívida que temos e reduz o preço dela.

A independência do judiciário também é muito importante. No caso do México, é o que será discutido agora. E há outros fatores, como os acordos de livre comércio. Teremos eleições nos Estados Unidos, e já tivemos uma renegociação dos acordos com México e Canadá no passado. Como será agora?