Bill Gates disse não ser realista esperar que os Estados Unidos possam voltar à vida econômica normal em meados de abril, como quer o Presidente Trump, e acha que os países emergentes como o Brasil ainda estarão às voltas com a crise do coronavírus no meio do ano.
Gates fez os comentários ontem à noite numa entrevista à CNN.
O fundador da Microsoft é uma das vozes mais imparciais e respeitadas no debate sobre a pandemia porque sua fundação financia a pesquisa para uma vacina e para testes rápidos, o que o coloca em contato constante e direto com os melhores cientistas do mundo.
“Não é realista [acreditar que os EUA voltarão à vida normal em meados de abril]. Os números ainda estão crescendo. Isso só vai acontecer quando os números chegarem no pico e começarem a cair, e a cair muito em termos absolutos,” disse.
Gates acredita que mesmo estados com poucos casos precisam fazer o shutdown para evitar que seus números cresçam rapidamente.
“Vamos supor que um estado tenha 100 casos e não faça o shutdown. Isso cresce 33% ao dia. Em pouco tempo vai ter 100, 1 mil, 10 mil casos… é crescimento exponencial! O quanto antes você entrar em shutdown, mais cedo você vai chegar no pico [de infecções].”
“As partes do país que não estão em shutdown vão começar a ver o pico no final de abril. O número de casos ainda estará muito alto para eles poderem reabrir [a economia], ainda deve demorar mais um mês para realmente puxar os números para baixo. … Mesmo nos lugares que têm apenas 100 casos, os números vão crescer, porque as pessoas se movimentam pelo estado, então o País inteiro precisa fazer o que fizeram na China onde houve as infecções.”
O fundador da Microsoft nota que os países ricos que fizerem o shutdown provavelmente vão conseguir evitar que uma porcentagem alta de sua população seja infectada e, no meio do ano, poderão voltar à normalidade.
Já nos países mais pobres, o buraco é mais embaixo: “como muitas pessoas moram próximas uma das outras em favelas e precisam sair todos os dias para comprar comida, fazer o isolamento social é um desafio infinitamente maior… no verão, ainda teremos um desafio grande nos países em desenvolvimento.”
Segundo ele, é inviável religar partes da economia enquanto o número de infectados não começar a baixar.
“Mesmo se você falasse para as pessoas voltarem a consumir, comprar casas, carros e ir a restaurantes, eu duvido que elas vão querer fazer isso. As pessoas querem proteger os mais velhos, seus pais… Então, o quanto antes tomarmos esse remédio — que é um remédio extremamente duro — mais cedo poderemos sair disso e não precisar voltar ao isolamento.”
Em meio a tanta desgraça, Gates também deu boas notícias.
Disse que o desenvolvimento da vacina, que sua fundação está financiando, está avançando a passos largos (ainda que deva demorar 18 meses), assim como o desenvolvimento de um autoteste, que pode ser feito pelo próprio paciente sem assistência médica e acaba de ser aprovado pela FDA.
“A inovação — muitas das quais já poderíamos ter feito antes, é verdade — está realmente acontecendo. Mas quando você olha os números de casos, não tem estado nenhum cujos números estejam decrescendo e nossa capacidade de testar ainda é limitada.
Talvez possa ser feito, mas ainda não há luz no fim do túnel em se tratando da retomada a vida normal em meados de abril.”