No caminho da Azul, tinha uma Passaredo.

A regra da ANAC que mudou o critério de distribuição de slots em Congonhas beneficia a Azul – em detrimento de Gol e LATAM – mas também favorece empresas menores, como a regional Passaredo.

“Vamos nos habilitar e pegar o máximo de slots que pudermos,” o CEO da Passaredo, Eduardo Busch, disse ao Brazil Journal. Ele diz que já está em conversa com empresas de leasing para incorporar até 4 aviões – a depender da quantidade de slots que conseguir assegurar. Se apenas Azul e Passaredo se habilitarem, cada uma pode levar até 20 slots. Hoje a Azul tem 26 slots. 

A MAP, do Amazonas, também manifestou interesse nos slots que eram da Avianca.

Depois de comemorar a notícia, a Azul divulgou uma nota afirmando que se a ANAC abrir o aeroporto para “uma série de novos entrantes”, o resultado vai ser um aumento do número de empresas sem acirrar a competição na Ponte Aérea. 

A Azul defende a adoção de um critério de oferta de assentos por avião para garantir um melhor uso da infraestrutura.

“A Azul tem um discurso eloquente a favor da competição, mas quer impedir as menores de se posicionar em Congonhas. Com isso, ela perpetua o monopólio da aviação regional brasileira,” rebate o CEO da Passaredo.

De fato, o foco da Passaredo não é a Ponte Aérea – nem ela não teria volume de slots suficiente para concorrer com a os horários que Gol e LATAM oferecem. 

“Meu objetivo é operar no aeroporto mais rentável para poder crescer no mercado regional. Quero entrar nas dezenas de rotas que hoje são operadas de forma exclusiva pela Azul,” diz Busch. 

No radar da Passaredo para Congonhas estão voos para Ribeirão Preto e outros destinos que eram operados pela Avianca, como Salvador, Porto Alegre e Recife. O plano é iniciar as operações com aviões turboélices ATR-72, de 68 assentos, e substituí-los por jatos de 150 lugares a partir do segundo semestre do ano que vem.

A regra da ANAC ampliou a definição de novos entrantes para incluir quem já opera no aeroporto com até 54 slots (antes eram 5 slots). Os novos entrantes terão direito a 100% dos slots que eram da Avianca – pela regra anterior, eram só 50% e o restante ficava com as incumbentes (Gol e LATAM). 

Mas a distribuição é temporária. Em julho do ano que vem deve haver uma nova distribuição, com novas regras. Para desestimular os aventureiros, a Anac impôs uma multa de R$ 9 milhões por slot para quem não operar dentro de critérios de regularidade e pontualidade.

“A Azul tem razão quando diz que a fragmentação a impede de ser competitiva na Ponte Aérea pois o passageiro business quer opções de horários,” diz Cleveland Prates, ex-conselheiro do CADE.

Contudo, ele diz que a regra da ANAC é boa e não vê problemas com a entrada de uma empresa regional como a Passaredo. “É complicado criar regras para o porte da aeronave. É interferir demais no mercado e você perde a capacidade de adaptação em momentos de flutuação de demanda. Dificilmente alguém vai operar com um avião muito pequeno.” 

A Passaredo tem sede em Ribeirão Preto e saiu de uma Recuperação Judicial em setembro de 2017. Ainda está equacionando a dívida, mas Busch diz que a operação é positiva. A empresa faturou R$ 240 milhões no ano passado e projeta R$ 300 milhões para este ano – sem considerar o incremento que pode vir de Congonhas.