A Aura Minerals está no mercado com uma oferta de ações 100% secundária direcionada ao varejo.
O follow-on vem quatro meses depois da mineradora de ouro, listada no Canadá, fazer um IPO no Brasil restrito a investidores institucionais.
A nova oferta está sendo coordenada apenas pela XP. Na oferta-base, a Aura quer vender R$ 187 milhões em BDRs, mas o montante pode subir em 20% se o hot issue for colocado.
O período de reserva começou na segunda-feira e o pricing será em 3 de novembro.
Em vez do processo tradicional de formação de preço via bookbuilding, o preço do follow-on será ou um desconto de 3% sobre o último fechamento antes da oferta ou uma média ponderada dos últimos cinco pregões — o que for menor.
A oferta traz ao mercado um ativo 100% dolarizado e com 80% de exposição ao ouro — num momento em que o metal está próximo do seu high nominal histórico e em que o real está nas cordas.
“Quem quer se proteger normalmente investe em empresas dolarizadas, mas elas estão dentro do ciclo mundial: se o mundo parar, elas sofrem também,” diz um executivo do setor. “Além disso, melhor do que ter ouro é participar do crescimento de uma empresa que extrai o metal e paga dividendos… como os custos da empresa são fixos, quando o preço sobe isso é aumento de margem na veia.”
A oferta deve aumentar significativamente a liquidez do papel. O BDR da Aura hoje negocia em média R$ 4,3 milhões/dia; após a oferta, o giro deve subir para entre R$ 10 mi e R$ 20 mi.
Os acionistas vendedores são os fundos Arias Resource e Ruffer, que investem há mais de cinco anos na empresa e tem menos de 5% do capital cada.
Desde o IPO, a ação da Aura praticamente andou de lado, apesar da escalada do ouro: chegou a subir mais de 20% nos primeiros meses, mas devolveu os ganhos em seguida.
Na época, a companhia levantou R$ 271 milhões para executar um plano de expansão ambicioso. (Outros R$ 513 milhões foram para uma oferta secundária que deu saída ao fundo Monazita Resources, um investidor antigo da empresa).
A Aura está desenvolvendo duas novas jazidas — uma em Alma, Tocantins, e outra em Matupá, no Mato Grosso — e vai expandir em 30% a capacidade de sua mina do México, a Aranzazu. Uma quarta mina nos EUA deve entrar em operação em breve. (Além do México, a Aura já tem minas em operação no Brasil e Honduras).
Quando todos os projetos estiverem prontos, em 2024, a Aura terá mais que dobrado sua capacidade produtiva, passando de cerca de 200 mil onças este ano para mais de 400 mil.
Uma fonte próxima à empresa diz que a estrutura de custos das novas minas será consideravelmente menor que a das três em operação e que o ganho de escala vai ajudar a diluir os custos — o que deve fazer com que o EBITDA cresça numa proporção ainda maior.
Um gestor que olhou o papel no IPO mas decidiu ficar de fora disse que foi uma questão de preço.
“Os controladores tem credibilidade — foi a mesma família que criou a Yamana Gold lá atrás — e até acho que vão conseguir entregar os projetos, mas não dá pra pagar tão na frente o valuation que eles queriam.”
Listada em Toronto, a ação da Aura passou por uma reprecificação brutal quando a empresa anunciou que faria a oferta no Brasil: o papel, que negociava na faixa dos C$ 4-C$ 5 ao longo do primeiro semestre, subiu para C$ 12 em junho — uma valorização de quase 200%.
“E foi mais ou menos esse o preço que eles usaram para precificar a oferta no Brasil.”
Nas contas desse gestor, a Aura negocia hoje a um price/NAV de 1,58 x; enquanto outras mineradoras de ouro — como Yamana, Kinross e Eldorado Gold — negociam num intervalo entre 0,6x a 1,5x.
O cálculo é conservador porque considera no NAV apenas as reservas de ouro (ativos já comprovados). Quando se incluem também os recursos (ativos potenciais) da Aura o múltiplo cai para menos de 1x, com desconto para alguns peers.