O posicionamento técnico do mercado de equities sugere que o rali pós-eleitoral da Bolsa que começou ontem ainda tem longas pernas pela frente.
A razão entre as opções de venda e de compra (o chamado put/call spread) está na mínima histórica, sugerindo que muitos investidores já se posicionaram para um rali.
Na sexta-feira, o índice estava em 0,62x (em outras palavras: há mais calls do que puts no portfólio dos investidores), bem abaixo da média histórica de cerca de 1,30x.
“Isso mostra que o investidor estava antecipando o rali, mas agora que o evento veio e ele tem mais segurança, é provável que ele vá com tudo, que o dinheiro comece a ir para o mercado à vista,” Carlos ‘Cadu’ Sequeira, o head de research do BTG, disse ao Brazil Journal.
Cadu ontem fez uma reunião com 200 investidores internacionais. A preocupação deles continua sendo ter alguma visibilidade sobre as políticas fiscais e econômicas do próximo Governo.
“As políticas do Bolsonaro já estão dadas, mas sempre teve uma incerteza sobre as políticas do Lula,” disse ele.
Com o resultado da eleição de domingo, essa incerteza foi em grande parte dissipada, já que um Congresso mais conservador e o resultado apertado do primeiro turno vai forçosamente empurrar o Lula para o centro.
O cenário-base do BTG é que Lula indique para o Ministério da Economia uma figura com “uma cabeça mais preocupada com o fiscal, mesmo que seja um político do PT,” disse Cadu.
“Mas talvez o resultado de domingo exija que ele antecipe esse anúncio e traga um nome mais emblemático, mais liberal e de centro.”
O Santander tem uma visão semelhante sobre o potencial de alta da Bolsa.
Para o banco, a principal mensagem que o eleitor mandou no domingo foi a seguinte: “não há espaço para radicalização em meio a uma demanda conservadora. O que importa para o mercado não é – evidentemente – nenhuma opinião ideológica, mas sim governança e racionalidade econômica,”escreveu Sandro Mazerino Sobral, o head de markets and trading do Santander Brasil.
O banco também vê “uma das exposições mais baixas ao Brasil da história,” ao mesmo tempo em que há enorme interesse dos investidores estrangeiros pelo País.
“Poucos investidores têm exposição ao Brasil… e quem tem, está leve no risco.”
Com a Selic em alta nos últimos dois anos, a exposição dos fundos locais também está magrinha.
Enquanto nos últimos 20 anos a indústria de fundos multiplicou por 8x para R$ 5,8 trilhões, apenas R$ 645 bilhões estavam aplicados em ações em agosto, o último dado público. Isso equivale a uma participação da Bolsa na cesta de investimentos de apenas 11,1%.
Em 2020, por exemplo, com a Selic a 2,5% essa fatia era de 15,2%. Se os juros começarem a cair rápido, a conclusão é lógica.
Mesmo antes da eleição, já havia sinais de que o investidor internacional estava olhando o Brasil com bons olhos.
Em setembro, a saída líquida de investidores internacionais da B3 foi de apenas R$ 500 milhões – apesar de setembro ter visto um selloff enorme do S&P.
“Tinha uma aversão a risco no mundo todo e o Brasil estava às vésperas da eleição. Mesmo assim, o estrangeiro ficou flat e não vendeu Brasil,” disse Carlos.
Em julho e agosto, o fluxo de dinheiro estrangeiro na Bolsa havia sido positivo em R$ 1,9 bilhão e R$ 16,4 bilhões, respectivamente.
A participação do Brasil na alocação de fundos globais também tem subido, à medida que a Rússia se tornou um pária global, e a China, um lugar mais complicado para investir.
A alocação de fundos globais em ações brasileiras dobrou, de 0,23% em dezembro para 0,53% em agosto, com o grosso da alta acontecendo nos últimos cinco meses.
Já nos fundos focados em mercados emergentes, a participação do Brasil passou de 4,34% em dezembro para 6,47% em agosto.
Tudo mais constante, o rali da Bolsa brasileira parece já estar dado. A grande questão é até onde ele pode ir.
“Acho que a Bolsa tem espaço para ir relativamente rápido para uns 130, 140 mil pontos,” disse Cadu. “Acho que dá pra subir uns 15-20% até o final do ano.”