Embalada pelo sucesso dos IPOs da Stone e da PagSeguro, a Linx estuda fazer uma oferta para levantar de US$ 250 milhões a US$ 300 milhões na Nasdaq.
As conversas com os bancos ainda são preliminares – ainda que a lógica de uma listagem externa tenha ganhado força, especialmente após o follow-on da Stone.
A possibilidade de uma oferta foi noticiada pelo Estadão. As ações chegaram a bater alta de mais de 8% e fecharam o pregão de ontem em alta de 5,5%.
As ofertas na Nasdaq costumam atrair investidores especializados em tecnologia mais dispostos a pagar pelo crescimento à frente do que os fundos tradicionais que investem em localmente nos mercados emergentes.
Desde que anunciou a criação da Linx Pay, em outubro, as ações da Linx já mais que dobraram. A valorização está apoiada na expectativa de crescimento do Pay que, por enquanto, ainda é uma parcela ínfima dos resultados.
O negócio recorrente, de softwares de gestão, faturou R$ 685 milhões ano passado – e vem crescendo a uma taxa de 15% nos últimos anos.
Quando fala com investidores, a Linx faz a seguinte conta: se converter metade dos R$ 250 bilhões que passam pelos seus sistemas de gestão em pagamentos processados pela Linx Pay, seu faturamento pode triplicar nos próximos anos. Considerando-se um take rate de 1,3% por transação, o novo empreendimento se traduziria em uma receita anual de R$ 1,6 bi – mais de duas vezes o faturamento atual.
Na prática, no entanto, o movimento está apenas começando. Num evento realizado esta semana pelo Bradesco BBI, a Linx afirmou o valor total processado (TPV) pela Linx Pay está em R$ 850 milhões e vem crescendo 20% a cada semana.
Dá pra enxergar o copo meio cheio ou meio vazio: por um lado, o valor ainda é irrisório; por outro, a força de vendas para o negócio de adquirência só foi efetivamente azeitada há pouco mais de um mês. “De qualquer modo, você ainda tem que pegar um binóculo para poder enxergar o copo”, diz o analista de uma gestora que acompanha de perto da companhia.
Em relatório publicado hoje de madrugada, o BTG elevou seu preço-alvo para a Linx de R$ 36 para R$ 45, citando uma ‘história de crescimento sem paralelos’. A análise do banco – que já foi coordenador do IPO e do primeiro follow-on da Linx, vale dizer – considera que o TPV da companhia deve chegar a R$ 100 bilhões em R$ 2023.
A título de comparação: a Stone processou R$ 86 bilhões em 2018 – 72% a mais que em 2017 – e a PagSeguro, R$ 76 bilhões, o dobro do ano anterior.
O analista Carlos Sequeira reconhece que os múltiplos de curto prazo não fazem pouco sentido para justificar o preço. Olhando para 2019, a Linx está negociando a 53,8 vezes o lucro. Considerando-se as projeções para 2021, nas contas da casa, esse valor cai para menos da metade, para 25,2 vezes.
“Faz todo sentido levar a Linx para a Nasdaq, porque dá visibilidade para um público que está mais disposto a pagar na frente”, diz um banqueiro. “Mas no estágio atual, esse aumento de exposição pode ser marginal”.
Apesar de ter nascido num mercado diferente, a Linx tem uma proposta parecida com a da Stone, cujas ações já avançam mais de 60% desde o IPO e acaba de fazer um follow-on.
Enquanto a companhia de André Street entrou no mercado pela adquirência e está expandindo sua oferta de softwares de gestão e serviços financeiros para fidelizar os clientes, a Linx tenta alavancar sua liderança no mercado de softwares de gestão no varejo – onde tem mais 40% do mercado – para oferecer meios de pagamento.
Em ambos os casos, a tese é mesma: a oferta de serviços agrega valor ao cliente e protege as empresas contra guerras de preços.
A turma do copo meio cheio afirma que a Linx tem como vantagem competitiva já ter o cliente do software, que é muito mais fidelizado – e que, portanto, é mais fácil partir para a adquirência do que fazer o movimento contrário. Outra vantagem: com acesso a dados financeiros e transações dos clientes, a empresa consegue fazer ofertas mais customizadas e ser mais assertiva no pricing na adquirência.
Quem enxerga o copo meio vazio ainda quer ver para crer.
Se a oferta for integralmente primária, com US$ 300 milhões indo para o caixa, será preciso ter um plano claro para os recursos.
A Linx tem histórico de rentabilizar o dinheiro captado dos acionistas. Levantou R$ 450 milhões num follow-on em 2016 e pacientemente foi empregando o dinheiro em pequenas aquisições estratégicas ao longo dos últimos anos, incluindo a plataforma de transferência eletrônica de recursos (TEF), que viabilizou sua entrada em pagamentos. Hoje ainda tem R$ 100 milhões em caixa líquido.
Há quem especule uma entrada no setor bancário ou de serviços financeiros. E há quem não esteja vendo muito sentido. “Se a tese é que há sinergia com o negócio de softwares e não é preciso entrar em guerra de preço, para que eles precisam de mais tanto dinheiro?”, questiona um analista.