A Perplexity AI, uma startup de inteligência artificial que mal chegou aos três anos de vida, quer comprar o navegador de internet do Google.
Em uma oferta não-solicitada, a Perplexity ofereceu US$ 34,5 bilhões pelo Chrome – quase duas vezes o seu próprio valuation. A startup disse ter obtido apoio de diversos financiadores para fazer o negócio. A Perplexity foi avaliada em US$ 18 bi numa rodada em julho.
O timing da proposta – em primeira mão pelo Wall Street Journal – foi significativo, porque vem num momento em que o Google aguarda a decisão da Justiça sobre os remédios antitruste que poderão ser aplicados contra a Big Tech.
No ano passado, o Google foi condenado em um caso aberto em 2020 pelo governo americano. A Big Tech teria infringido as leis de concorrência ao usar seu virtual monopólio no mecanismo de busca para fechar acordos de exclusividade e adotar práticas que prejudicam os concorrentes.
Entre os remédios solicitados pelo Department of Justice (DOJ) está a cisão do Google, com o desinvestimento de seu browser, o Chrome.
De acordo com o DOJ, a cisão do Chrome deixaria o campo mais justo para a competição nesse mercado. Para o Google, o DOJ está defendendo uma “agenda intervencionista radical.”
A decisão do juiz Amit Mehta deve ser conhecida ainda este mês.
A Alphabet, controladora do Google, sugeriu remédios pontuais e já indicou que irá recorrer. Segundo os analistas, a companhia deverá lutar na Justiça em vez de aceitar um veredicto que a obrigue a vender seu navegador.
Segundo Thiago Kapulskis, o gestor de global tech da São Pedro Capital, a Perplexity não tem nada a perder em fazer a oferta pelo Chrome.
“Pode ser uma estratégia por estarem atraindo mais capital, ou para se aproveitarem do processo do DOJ, ou ainda para quem sabe levantarem a bola para um M&A,” Kapulskis disse ao Brazil Journal. “Mas me parece um valuation muito baixo frente ao valor do Chrome.”
Segundo o WSJ, estimativas para o enterprise value do Chrome variam de US$ 20 bi a US$ 50 bi.
“Mas esses são valores para o negócio standalone. Para o Google, o Chrome vale bem mais. Já falaram em até US$ 200 bi. É com o browser que o Google atrai um maior número de usuários para a sua ferramenta de busca e também para os bids de publicidade,” disse o analista de ações globais de uma das maiores gestoras da Faria Lima.
Antes da Perplexity, a OpenAI, a Apollo Global Management e o Yahoo já haviam demonstrado interesse em adquirir o Chrome – o browser mais usado no mundo e importante para o Google atrair as receitas geradas pelos anúncios de sua ferramenta de busca.
Em uma carta enviada ao CEO da Alphabet, Sundar Pichai, a Perplexity disse que sua oferta foi “desenhada para atender o remédio antitruste dentro do mais elevado interesse público, ao posicionar o Chrome como um operador independente e capaz.”
No evento de uma aquisição, a Perplexity disse ainda que manteria o suporte ao Chromium – o projeto open source que apoia o desenvolvimento de outros browsers – e que manteria o Google como o default de buscas na internet.
A Perplexity entrou no ar em dezembro de 2022, tornando-se um dos primeiros mecanismos de busca movidos a AI. Recentemente, a empresa lançou o seu próprio browser, o Comet.
Seu CEO e cofundador, o indiano Aravind Srinivas, de 30 anos, tem PhD em computação em Berkeley e, antes de fundar a empresa, passou por Google, DeepMind e OpenAI. Entre os financiadores da Perplexity estão Jeff Bezos, Nvidia e SoftBank.
Ferramentas de AI como o ChatGPT e a Perplexity, ao oferecerem respostas ‘prontas’ e ‘conversas’ com seus usuários – em vez de apenas uma lista com links na internet – estão desafiando a hegemonia do Google em search.
Já na corrida pela hegemonia em aplicativos de AI, a Perplexity corre fora na briga a cada dia mais acirrada, que envolve tanto startups como OpenAI e Anthropic quanto as Big Techs com seus próprios modelos de linguagem e ferramentas.
Há alguns meses, a Meta chegou a avaliar a possibilidade de apresentar uma proposta de compra da Perplexity, mas a transação não prosperou.