A Anheuser-Bush InBev (ABI), controladora da Ambev, abriu uma larga vantagem sobre o valor de mercado da Coca-Cola, marcando o eclipse do mais festejado ícone do capitalismo global por uma empresa administrada por brasileiros.

Ao longo do último ano, o valor de mercado da ABI já havia superado levemente o da Coca-Cola diversas vezes, mas, de 23 de janeiro para cá, a vantagem dos brasileiros se consolidou (veja gráfico abaixo).

A ABI terminou o dia ontem valendo US$ 200,5 bilhões na Bolsa de Nova York, 9,8% mais que a Coca-Cola, que valia US$ 182,6 bilhões. A Pepsico vale US$ 144 bilhões.

Por um lado, essa ultrapassagem numérica é a evidência mais recente de que a filosofia de gestão implementada na ABI e na Ambev se tornou a nova métrica de eficiência no capitalismo global. Essa gestão, que no dizer das próprias empresas é baseada no trinômio “sonho, gente e cultura”, também pode ser definida por um controle obsessivo de custos e uma seleção darwiniana de talentos, combinando meritocracia com desafios cada vez maiores.

Por outro lado, a Coca-Cola Company enfrenta apatia e acomodação por parte de seus gestores, além de desafios estruturais — o consumo de refrigerantes cai há nove anos consecutivos nos EUA. O management  está sob pressão  de acionistas irritados com a baixa rentabilidade da empresa e a remuneração nababesca dos executivos, alimentando a ideia, antes impensável, de que a Coca-Cola possa se tornar alvo de uma oferta.

Até cerca de dois anos atrás, se a Coca-Cola cometia um deslize ou seus lucros desapontavam num trimestre, os investidores sempre davam o beneficio da dúvida: mais que uma empresa, a Coca-Cola era uma vaca sagrada.

Agora, o mercado perdeu a cerimônia.

Para a Coca, talvez nada ilustre melhor este novo mundo pós-unanimidade do que uma cena ocorrida em setembro num hotel em Boston, onde o banco Barclays organizava uma conferência para analistas do setor de consumo.

Presente ao evento, uma convidada importante: a CFO da Coca-Cola, Kathy Waller. À frente de uma sala lotada, com muita gente em pé, Waller respondia à pergunta de um analista americano quando foi bruscamente interrompida pelo próprio.

“Ok.. ok.. ok…,” atalhou o analista, impaciente, do fundo da sala. “Mas nós estamos na era do Carlos Brito [CEO da ABI], da 3G Capital e do ativismo! Você não acha que está faltando um sentido de urgência na sua empresa?”

A cobrança, na forma e no conteúdo, é sinal dos tempos.

BUDvKO