A Americanas disse que chegou a um acordo com seus principais credores financeiros para votar o plano de recuperação judicial.

Depois de um final de semana de discussões, o acordo foi concluído às 4h30 desta segunda-feira.

Segundo a Americanas, o plano conta com o apoio de credores que respondem por cerca de 35% das dívidas. A empresa acredita que terá a adesão de mais de 50% até a realização da assembleia geral de credores, marcada para 19 de dezembro.

As linhas gerais do plano já haviam sido divulgadas pela companhia na última apresentação de resultados, em 16 de novembro. Mas há pontos de divergência.

O documento é assinado por debenturistas e pelos grandes bancos – com exceção do Safra, que pede acesso aos documentos que embasaram as demonstrações financeiras reapresentadas pela Americanas.

“O Safra pode buscar o ressarcimento do seu prejuízo de outras formas, reduzindo ou até anulando o haircut,” diz uma pessoa próxima ao banco.

Além disso, parte dos debenturistas pede na Justiça que a votação para credores de classe 3 (quirografários) seja por valor financeiro e “por cabeça”.

No plano, a Americanas prevê apenas a votação por valor financeiro.

“A lei diz que é preciso haver essa dupla contagem, por valor e por cabeça, e o plano precisa ser aprovado nas duas modalidades,” diz um advogado.

O Brazil Journal apurou que alguns debenturistas devem entrar com outra ação na Justiça pedindo mais prazo para a realização da assembleia com credores.

“Queremos tempo para negociar com a empresa, que até agora se concentrou bastante nos grandes bancos,” diz o gestor de um fundo de renda fixa que, pelo plano, terá que converter a dívida em equity para escapar do haircut de 70%. Para ele, deveria haver uma opção diferente para este tipo de credor.

O plano prevê uma capitalização de R$ 24 bilhões, com R$ 12 bilhões vindo dos acionistas de referência, incluindo um aporte de recursos em dinheiro e a capitalização de créditos relacionados ao financiamento ‘debtor in possession‘ (DIP) existente na data da realização do aumento do capital (cerca de R$ 2 bilhões).

Outros R$ 12 bilhões virão da conversão de dívidas em ações da empresa.

O preço por ação deverá ser aprovado pelo conselho de administração até a data da assembleia de credores – e será conferido um bônus simbólico de subscrição com preço de exercício de R$ 0,01 para cada três ações emitidas.

Assim, segundo a empresa, o preço de emissão de cada ação corresponderá a 1,33x o preço médio de mercado por volume negociado nos últimos 60 dias até a véspera da data da assembleia.

A Americanas disse ainda que, depois do aumento de capital, fará uma assembleia geral de acionistas para eleger um novo conselho de administração.

O plano de RJ também estabelece o pagamento nas condições originais para credores das classes 1 e 4 (trabalhistas e micro e pequenos empreendedores) e o pagamento integral para credores com créditos de até R$ 12 mil.

Prevê ainda a disponibilização de R$ 40 milhões para pagamento de credores com créditos superiores a R$ 12 mil e que aceitem receber apenas R$ 12 mil.

Outro ponto é a destinação de R$ 8,7 bilhões para o pagamento de credores financeiros, por meio de leilão reverso com desconto mínimo de 70% (R$ 2 bilhões) ou pagamento antecipado de créditos com desconto de 70% (R$ 6,7 bilhões).

Com isso, a Americanas espera reduzir sua dívida bruta para R$ 1,875 bilhão.

Além disso, a empresa negociou uma linha de fianças bancárias no valor de R$ 1,5 bilhão, disponível por dois anos após a homologação do plano ou enquanto a companhia estiver sob supervisão judicial.

Os credores que oferecerem essa linha terão acesso prioritário a uma parcela de R$ 1,5 bilhão dos R$ 6,7 bilhões previstos no plano de recuperação.

A Americanas também faz uma distinção entre o que chama de “credores fornecedores colaboradores” – que forneceram mercadorias para a companhia até a aprovação do plano – os fornecedores de tecnologia e os demais.

Para pagar os fornecedores colaboradores, a empresa destinará R$ 3,7 bilhões. Credores que tenham até R$ 1 milhão a receber, ou deem a quitação por esse valor, receberão integralmente.

Em seguida, a empresa pagará os credores cujos produtos respondem por 0,3% das vendas totais. Os recursos que sobrarem serão destinados ao pagamento de uma parcela única para os demais. Se esses recursos não forem suficientes, a companhia destinará mais R$ 300 milhões para pagamento em 60 parcelas.

Haverá ainda R$ 100 milhões para pagar os fornecedores de tecnologia em parcela única, sem deságio.

As dívidas dos outros credores fornecedores terão um deságio de 50% e prazo de pagamento de 48 meses.

Os credores que não se enquadrarem em nenhuma das condições específicas do plano terão um haircut de 80%.

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