A Oi acaba de anunciar que está trocando seu CEO.
Rodrigo Abreu está dando lugar a Mateus Bandeira, um ex-Secretário de Planejamento do Rio Grande do Sul e ex-CEO da Falconi, e conselheiro da Oi desde janeiro de 2021.
Mateus está assumindo o cargo de forma transitória, dado que após a aprovação do plano de recuperação judicial da operadora toda a governança da companhia vai mudar, com os credores ficando com a maior parte do equity da Oi.
Rodrigo — CEO desde 2020 — sairá da operação, mas continuará no conselho da Oi e à frente das duas agendas prioritárias da empresa: as conversas com os credores e a negociação com a Anatel relacionada à concessão de telefonia fixa da Oi.
Mateus comandará a operação do negócio e as discussões de vendas de ativos. O executivo tem uma ampla bagagem financeira — foi CEO do banco estadual gaúcho, da consultoria Falconi e membro do conselho do Banco Pan — e está no board de diversas companhias. Além da Oi, é conselheiro da Vibra Energia, Marcopolo e Intelbrás.
Rodrigo disse ao Brazil Journal que decidiu deixar o comando porque seu mandato venceu agora e “não fazia sentido renová-lo” dado que em breve a empresa deve passar por mudanças relevantes de governança.
“Nas discussões do conselho, optamos por convidar o Mateus porque ele já conhece muito bem a companhia, tem participado de todas as discussões, e porque dentro do conselho ele é quem tem a maior experiência executiva,” disse o CEO de saída.
No fato relevante publicado agora há pouco, a Oi também disse que espera que a apresentação do plano de RJ aconteça ainda este mês e que ele seja levado às assembleias de credores já em fevereiro.
A Oi já havia apresentado uma primeira versão do plano de RJ em meados do ano passado. Na época, o plano consistia numa injeção de dinheiro novo de um grupo de credores, que permitiria que ela atravessasse a fase de redução de custos e venda de ativos, além de quitar um pedaço da dívida antiga.
Os credores que participassem dessa captação teriam uma proteção maior das dívidas antigas, com um desconto menor. Já os credores que não participassem teriam um desconto maior, com parte significativa da dívida sendo convertida em equity.
Nos termos da primeira proposta, essa conversão geraria uma diluição de cerca de 80% para os atuais acionistas.
Segundo Rodrigo, o novo plano deve manter uma estrutura “bem parecida” com a do primeiro, mas com mudanças relacionadas aos valores e percentuais de desconto da dívida — detalhes que ainda estão sendo discutidos com os credores.
Da dívida líquida de R$ 30 bilhões da Oi, um terço é com bancos locais (Itaú, Banco do Brasil e Caixa, principalmente), um terço com bondholders, e um terço com agências de fomento à exportação.
Outra prioridade da Oi é a negociação com a Anatel envolvendo sua concessão de telefonia fixa.
A gênese dessa discussão é a insustentabilidade do negócio de telefonia fixa dados os termos atuais da concessão, que exigem obrigações enormes, incluindo custos altos com a manutenção da rede em todas as regiões do País.
Diante desse cenário, e com a tendência de queda cada vez maior da telefonia fixa, a Oi pediu à Anatel que transformasse sua concessão numa autorização, que não carrega nenhuma dessas exigências.
“O problema é que na estruturação da migração de concessão para autorização, a Anatel calculou compensações para o Estado pelo fim das obrigações que somam mais de R$ 15 bilhões,” disse Rodrigo.
Em 2021, a Oi entrou com uma arbitragem contra a Anatel para contestar a não-atualização da regulação, que acabou gerando perdas relevantes para a companhia. “O Poder Concedente tem como obrigação evitar que não haja perdas causadas pela regulação, e isso não foi feito,” disse Rodrigo.
O valor original pedido pela Oi na arbitragem era de R$ 20 bilhões, mas ele foi sendo aumentado ao longo do processo e hoje gira em torno de R$ 50 bilhões.
Com os processos dos dois lados, a Oi, a Anatel e o TCU estão estudando um acordo pelo qual a Oi abriria mão da arbitragem e o Governo abriria mão das compensações para a migração de concessão para autorização e de algumas dívidas relacionadas à concessão.
Rodrigo disse que espera que este acordo seja fechado ainda no primeiro trimestre.
A celebração deste acordo abriria espaço para uma redução de custos brutal da Oi na operação de telefonia fixa, tornando os custos da vertical mais condizentes com sua receita.
Para se ter uma ideia, esse negócio chegou a ter uma receita anual de R$ 10 bilhões no auge. No ano passado, essa receita já caiu para cerca de R$ 2 bilhões, e este ano deve cair ainda mais, dado que a receita vem caindo num ritmo de 40% ao ano nos últimos anos.
Ao mesmo tempo, os custos operacionais associados à concessão — como a manutenção da rede, energia e postes — giram em torno de R$ 2 bi. “Esse é um negócio que tem gerado um consumo de caixa de R$ 1 bi a R$ 2 bi por ano para a Oi, e que cada vez vem aumentando mais,” disse Matheus.
Como parte do processo de recuperação judicial, a Oi também planeja vender sua operação de banda larga, a ClientCo, que foi construída do zero desde 2019 e hoje tem mais de 4 milhões de clientes.
Segundo Rodrigo, a venda ainda depende das definições do plano de RJ, mas a companhia já contratou o BTG e o Citi para sondar o interesse do mercado.
Outro ativo que deve ser vendido é a participação de 31% que a Oi ainda tem na V.tal, a empresa de infraestrutura de banda larga hoje controlada pelo BTG.
Após o plano de RJ e o acordo com a Anatel, a ideia é que a Oi se torne uma empresa asset light e com foco na prestação de serviços por meio da Oi Soluções, a unidade de negócios que atende clientes corporativos com soluções de telecom e TI e que fatura cerca de R$ 3 bilhões por ano.