A AES Brasil Energia vendeu novas ações a R$ 12 em um follow-on que movimentou R$ 1,11 bilhão.
 
As ações saíram com desconto de 11% em relação ao fechamento de ontem (R$ 13,48) — um dia sangrento para os mercados globais em que o Ibovespa caiu 3%.
 
A AES Holdings, que controla a AES Brasil com 45,6%, participou da oferta prioritária nessa mesma proporção para não ter sua participação diluída — colocando cerca de R$ 500 milhões do total da oferta. 
 
Dado o stress de mercado, a BNDESPar optou por não vender sua fatia de 9,90% da empresa. A oferta secundária estava prevista via lote adicional, mas somente em caso de excesso de demanda. 
 
A posição do banco é compreensível. Para efeito de comparação, em julho de 2020, a BNDESPar vendeu 19% da AES Tietê para a AES Corp. por R$ 17,15/ação. 
 
Depois daquela transação, a empresa mudou de nome para AES Brasil e aderiu ao Novo Mercado. A Eletrobras — outro acionista relevante da empresa com 7,5% — não acompanhou a operação e terá sua participação diluída. 
 
A demanda pelos papéis da AES superou a oferta em quase três vezes — considerando os R$ 610 milhões que ficaram com o mercado. Investidores locais foram 60% da demanda. 
 
Os recursos levantados vão financiar o crescimento do portfólio de geração de energia renovável da AES Brasil. 
 
Em 2016, a empresa focava 100% em fontes hídricas e tinha 2,7 GW de capacidade instalada. Agora, esta capacidade já chegou a 4,4 GW — com um mix de 60% de fontes hídricas, 33% eólicas e 7% solar. 
 
O plano de expansão em energia renovável deverá aumentar a capacidade total para 5,9 GW, com relevância ainda maior para as fontes eólicas, que passarão a responder por 44% do mix; as hídricas serão 45% e a solar, 11%. 
 
A AES destacou nas conversas com investidores dois projetos eólicos já em desenvolvimento que contribuem para este plano: o Tucano, uma joint venture com a Unipar na Bahia, tem capex de R$ 1 bilhão;  e o Cajuína, no Rio Grande do Norte, tem capex de R$ 2 bi.
 
Mas os recursos da oferta também chegam em boa hora por outro motivo: as diversas aquisições e o capex pesado têm aumentado o endividamento da empresa em meio a um cenário de juros em alta e crise hídrica, que machucam o EBITDA. 
 
No final do segundo trimestre, a dívida líquida da AES era de R$ 4,73 bilhões, 76,2% maior que a registrada no mesmo período do ano anterior. 

Em agosto de 2020, a companhia pagou R$ 650 milhões de enterprise value por três parques eólicos do Grupo J. Malucelli.

Em dezembro, outra aquisição de R$ 806 milhões: os complexos eólicos MS e Santos, no Rio Grande do Norte e Ceará, ambos em operação desde 2013.

Os coordenadores foram Bradesco BBI (líder), Itaú BBA, Credit Suisse, HSBC e Santander.